terça-feira, 10 de março de 2009

CNBB diz que arcebispo "não excomungou ninguém"



O secretário geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Dimas Lara Barbosa, disse ontem que o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, "não excomungou ninguém". Segundo ele, o arcebispo "apenas apresentou uma situação em que o Direito Canônico ainda prevê pena de excomunhão". Na semana passada, dom José afirmou que iria excomungar a mãe de uma criança de 9 anos que engravidou de gêmeos depois de ser estuprada pelo padrasto e que fez um aborto, além dos médicos responsáveis pelo procedimento.

"É preciso que a pessoa saiba que existe uma pena desse tipo. É preciso que a pessoa seja livre e consciente para saber (que aquela atitude levará à excomunhão). Como ele (o arcebispo) mesmo depois disse, provavelmente ninguém incorreu nessa excomunhão porque ninguém sabia de nada. (O ato) serviu como um alerta para mostrar a gravidade que a igreja considera a questão do aborto. Provavelmente as pessoas não estão excomungadas", disse dom Dimas, depois de proferir palestra sobre a Campanha da Fraternidade, ontem, na Associação Comercial do Rio. A Campanha da Fraternidade este ano tem como tema a Segurança Pública.

De acordo com dom Dimas, o Código do Direito Canônico prevê poucos casos de excomunhão e o aborto é um deles, mas normalmente "quando (a pessoa) comete determinado ato, ela mesma se coloca fora da igreja". "A norma que dom José se referiu não é dele, é do Direito Canônico. Então, não foi ele que decidiu excomungar. Ele apenas anunciou que existe uma norma do Direito Canônico para as pessoas que conscientemente e livremente se colocam a favor do aborto. Eu não sei lhe dizer se alguma dessas pessoas é de fato militante nessa área do aborto e se pode dizer que ela saiu da comunhão com a igreja. De qualquer maneira, a norma para preservar o direito do naciturno existe mesmo."

Dom Dimas lamentou que a violência sofrida pela menina não seja um fato isolado. Ele mesmo disse ter acompanhado em Jacareí (SP) uma menina de 10 anos vítima de um estupro que levou a gravidez adiante. Ela foi acompanhada por um pediatra, psicólogo, pela família e está bem. "Embora a gravidez fosse de risco, o aborto também era. A igreja orienta na tentativa de salvar todas as vidas possíveis e, com um adequado sistema de saúde, consegue-se fazer isso. O fato da interrupção traz um trauma muito complicado para quem o faz. As crianças e jovens que levaram a gravidez adiante pelo menos sentiram que foram amparadas e que o fruto de seu ventre não era algo descartável. Esse é o debate que acho que deve ser considerado. Vamos defender todas as vidas", disse.

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