Ricardo Boechat - Jornal da Band
Bombas e seis feridos em desocupação de favela
Três pessoas foram presas e ao menos seis ficaram feridas em um confronto ocorrido durante cumprimento de reintegração de posse de um terreno pertencente à viação Campo Limpo, ontem, no Capão Redondo (zona sul de SP). A desocupação da área de 33 mil metros quadrados foi feita por 248 policiais militares, incluindo um pelotão da Tropa de Choque, e "varreu" a favela Olga Benário do local.
Foram retiradas 3.200 pessoas. São, segundo a prefeitura, cerca de 800 famílias. A FLM (Frente de Luta pela Moradia) diz que haviam 630 famílias no terreno.
O tumulto começou por volta das 7h. Segundo a PM, cerca de cem moradores reagiram à chegada dos policiais, atirando pedras, pedaços de madeira, coquetéis molotov e até rojões contra a tropa, que revidou com tiros de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Um trator foi usado para derrubar os barracos. O protesto durou menos de meia hora.
Revoltados, manifestantes atearam fogo a 14 barracos durante toda a manhã. Além de dois moradores presos por terem atirado rojões na direção dos policiais, um homem foi detido depois de atropelar, por volta das 11h, um policial com uma moto. O veículo foi apreendido e o suspeito autuado em flagrante por tentativa de homicídio. O PM não corre risco de morte.
"Jogaram bomba na gente, sequer deram tempo para tirarmos os móveis", disse o pintor José Carlos da Silva, 48 anos. Pernambucano, pai de oito filhos, com o nono a caminho, ele diz que não tem para onde ir. "Não sei o que fazer, gastei uns R$ 2.000 para fazer esse barraco."
Em recuperação de uma pneumonia que a afastou do trabalho, a doméstica Valéria dos Santos, 43 anos, diz que está sem dinheiro e não pode contar com a opção de abrigo em casa de familiares. "Meus parentes moram longe."
De acordo com o advogado da empresa de transporte de passageiros Viação Campo Limpo, Daniel Góes, a desocupação de ontem foi resultado de uma disputa judicial iniciada em meados de 2007. "Tão logo o terreno foi invadido, nós entramos com uma ação de reintegração. Na primeira instância, não obtivemos êxito. Mas recorremos, e o TJ concedeu liminar em nosso favor."
Segundo ele, desde fevereiro, houve pelo menos cinco reuniões no 37º Batalhão da PM, em que se discutiu com moradores a possibilidade de uma desocupação pacífica.
Aulas suspensas
A desocupação fez a prefeitura suspender as aulas para 4.500 alunos de quatro escolas municipais da região. A suspensão, adotada por uma questão de segurança, será mantida hoje.
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