terça-feira, 29 de setembro de 2009

Em editorial, Folha decide apoiar os golpistas de Honduras

Na imprensa, os editoriais servem como declaração de tomada de posições. Revela como aquele veículo de comunicação irá se posicionar editorialmente em relação a determinado assunto. O editorial é o espaço esclarecedor que mostra com todas as letras o que os textos da cobertura jornalística mantém nas entrelinhas. Nesse sentido, é esclarecedor o editorial desta terça-feira (29) da Folha de S. Paulo sobre a situação de Honduras.
Ao invés de condenar os golpistas, como está fazendo toda a comunidade internacional, a Folha prefere criticar o governo brasileiro por dar abrigo ao presidente Manuel Zelaya. E pior: chega a elogiar os golpistas, dizendo que o "regime chefiado por Roberto Micheletti em Honduras ocupa categoria bem mais tênue de ilegitimidade democrática". A frase é praticamente uma releitura internacionalizada do termo "ditabranda" que tanto constrangimento causou ao jornal. (leia aqui <http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=48795&id_secao=6> )

E mais: o editorial ainda afirma que o "governo interino (...) respeitou a linha sucessória constitucional, assegurou o poder em mãos civis e manteve o calendário das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro".

Ignorando as mais elementares noções de política externa, o jornal também "estranha" que o governo brasileiro não negocie com o "presidente" Micheletti, o que seria uma forma de reconhecer o governo golpista.

No editorial, não há palavra de condenação ao estado de sítio declarado pelo governo golpista, nem sobre os ataques à imprensa, ou sobre as ameaças à sede diplomática brasileira e as sucessivas violações aos direitos humanos perpetradas pelos gorilas hondurenhos.

Após um editorial tão esclarecedor, não causará surpresa se a cobertura jornalística dos veículos de comunicação do grupo Folha começar a pender para o apoio aberto aos golpistas que assaltaram o poder em Honduras.

Da redação,
Cláudio Gonzalez

Veja abaixo a íntegra do editorial da Folha:

Um passo atrás

Brasil se intromete mais do que deve em Honduras e toma atitude estranha de negar-se ao diálogo com governo de fato

O ENVOLVIMENTO do Brasil na crise hondurenha foi além do razoável, e provavelmente o Itamaraty já perdeu a capacidade de mediar o impasse. É preciso dar um passo atrás e recuperar a equidistância em relação seja à intransigência de um governo ilegítimo, seja a uma plataforma, dita bolivariana, descompromissada com a democracia.

O Brasil perdeu o mando sobre sua embaixada em Tegucigalpa. A casa está ocupada por cerca de 60 militantes, que acompanham o presidente deposto, Manuel Zelaya. Devido à omissão do governo brasileiro, Zelaya e seu séquito transformaram uma representação diplomática estrangeira numa tribuna e num escritório político privilegiados.

O salvo-conduto para o proselitismo chegou ao ápice no sábado. De dentro da embaixada brasileira, Zelaya conclamou a população do país à revolta. Se o Brasil considera o presidente deposto seu "hóspede", deve impor-lhe a regra fundamental da hospitalidade diplomática: calar-se sobre temas políticos internos. Do contrário, caracteriza-se intromissão de um país estrangeiro em assuntos domésticos hondurenhos.

A propósito, terá o Itamaraty controle sobre todos os cidadãos alojados em sua representação? Sabe, de cada um, a nacionalidade e o motivo de estar ali? O abrigo deveria restringir-se a Zelaya e seus familiares próximos; todos os demais precisam ser retirados da embaixada. Não cabe ao Brasil hospedar a guarda pretoriana do presidente deposto.

Outra posição cada vez mais estranha do Brasil é a recusa absoluta de negociar com o governo interino de Roberto Micheletti. Tal intransigência contraria a tradição diplomática do Itamaraty, não contribui para a dissolução do impasse e cai como uma luva para o objetivo do chavismo -interessado em prolongar a desestabilização política em Honduras.

O presidente Lula negocia com a ditadura cubana e a favor dela interveio na Assembleia Geral da ONU. Em Nova York, afagou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que acabava de reiterar a negação do Holocausto e ser flagrado em nova trapaça nuclear. Logo depois, na Venezuela, Lula se reuniu com golpistas africanos e ditadores homicidas do continente, como Robert Mugabe (Zimbábue) e Muammar Gaddafi (Líbia) -o líder sanguinário do Sudão não pôde comparecer porque poderia ser preso numa conexão aérea.

O regime chefiado por Roberto Micheletti em Honduras ocupa categoria bem mais tênue de ilegitimidade democrática. Violou a Constituição ao expulsar do país um presidente eleito, quando a ordem da Corte Suprema era de prender Zelaya, por afronta a essa mesma Carta. O governo interino, contudo, respeitou a linha sucessória constitucional, assegurou o poder em mãos civis e manteve o calendário das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro.

O Brasil precisa recobrar a lucidez diplomática -e, com ela, a sua capacidade de mediação. Ajudar a dissolver o impasse é a melhor contribuição que o Itamaraty tem a oferecer no caso de Honduras.

www.vermelho.org.br

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