Futebol e ditadura. A dupla é velha, mas não por isso menos efetiva. O governo de fato hondurenho mantinha, ontem (14) um estado de sítio em todo o território e, ao mesmo tempo, negociava pata tentar continuar no poder com representantes do presidende deposto, Manuel Zelaya. Sob esse clima, nada melhor que um clássico futebolístico por um lugar no Mundial da África do Sul para monopolizar não só todas as conversas, como também o noticiário e a programação televisiva.
"Nós vamos voltar com a cabeça erguida. Temos uma boa estratégia para derrotar o inimigo ", previu com tom marcial o governante de fato poucas horas antes da partida. O "inimigo", nesse caso, era El Salvador. O mesmo que, há quarenta anos, invadiu o território hondurenho após um jogo que passaria à história como "a guerra do futebol". Desta vez não houve guerra. Houve comemoração. (Honduras) ganhou e se classificou, com a ajuda dos Estados Unidos (que empatou na hora com a Costa Rica).
"O futebol e o chauvinismo, aqui é a mesma coisa", disse Carlos Reyes, um candidato independente à presidência. Talvez, neste caso, a sentença tenha ficado aquém. Torcedores, bandeiras e declarações de guerra desportiva monopolizaram tudo. Os ônibus grátis para ir a El Salvador foram fornecidos pelo governo de fato.
A partida recebeu nos jornais tanta cobertura que encontrar uma notícia referente à eventual restituição de Manuel Zelaya não era uma tarefa fácil. A metáfora militar do ditador varreu as manchetes. "Invasão de Honduras em El Salvador," foi o título principal do diário pró-golpista La Prensa. "Eles querem fazer amargar o povo hondurenho, mas vamos ferí-los", disse o jornal La Tribuna.
"Carros cheios de fervor, euforia e patriotismo partiram de diferentes pontos do país para o campo inimigo. Estamos monopolizando todos os postos fronteiriços. Os catrachas (hondurenhos) se comprometeram a lutar ", declarou, por sua vez, o El Heraldo. Muito abaixo, nos sites das três publicações, foi possível encontrar notícias como "Consenso foi alcançado para o retorno de Zelaya. "
Para que o clima fosse perfeito era necessário, também, criar traidores da causa nacional. "Irmãos salvadorenhos: o melhor presente que vocês nos podem dar é dar uma surra nesta equipe que representa os interesses da oligarquia usurpadora de nosso país", teria gritado Juan Barahona, líder sindical e dirigente da frente de resistência contra o golpe estado, segundo um jornal.
O inimigo interno havia sido localizado. "Hoje, o tema é futebol, mas há um grupo de colegas que quer, pede e grita que Honduras perca para El Salvador. Este grupo de hondurenhos pertence à chamada resistência zelaysta", dizia El Heraldo. Os e-mails com insultos à resistência, então, não tardaram a invadir o site na Internet do diario.
O inimigo, esse inimigo de que falou Micheletti, entrou em Honduras em 14 de julho de 1969. Ele fez isso em resposta à lei de reforma agrária com a qual o governo de Tegucigalpa tentou expulsar centenas de milhares de camponeses salvadorenhos e, assim, entregar essas terras a hondurenhos.
Três partidas entre os dois países pelas eliminatórias se encarregaram de insulflar os ânimos nacionalistas. Naquela época, em ambos os lados da fronteira havia ditaduras militares. Hoje, apenas Honduras mantém o costume, em El Salvador, no entanto, governa a esquerdista Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.
Com a vitória de Honduras, ontem, no jogo contra El Salvador, a euforia do povo e as comemorações continuaram a tomar conta do noticiário. E o governo de fato decretou feriado nacional.
"Neste país o futebol é usado para tudo. Como a ditadura não o iria espremer ao máximo?", disse Reina Centeno, professora e líder sindical. Qualquer semelhança com outras latitudes não é mera coincidência.
vermelho.org
"O futebol e o chauvinismo, aqui é a mesma coisa", disse Carlos Reyes, um candidato independente à presidência. Talvez, neste caso, a sentença tenha ficado aquém. Torcedores, bandeiras e declarações de guerra desportiva monopolizaram tudo. Os ônibus grátis para ir a El Salvador foram fornecidos pelo governo de fato.
A partida recebeu nos jornais tanta cobertura que encontrar uma notícia referente à eventual restituição de Manuel Zelaya não era uma tarefa fácil. A metáfora militar do ditador varreu as manchetes. "Invasão de Honduras em El Salvador," foi o título principal do diário pró-golpista La Prensa. "Eles querem fazer amargar o povo hondurenho, mas vamos ferí-los", disse o jornal La Tribuna.
"Carros cheios de fervor, euforia e patriotismo partiram de diferentes pontos do país para o campo inimigo. Estamos monopolizando todos os postos fronteiriços. Os catrachas (hondurenhos) se comprometeram a lutar ", declarou, por sua vez, o El Heraldo. Muito abaixo, nos sites das três publicações, foi possível encontrar notícias como "Consenso foi alcançado para o retorno de Zelaya. "
Para que o clima fosse perfeito era necessário, também, criar traidores da causa nacional. "Irmãos salvadorenhos: o melhor presente que vocês nos podem dar é dar uma surra nesta equipe que representa os interesses da oligarquia usurpadora de nosso país", teria gritado Juan Barahona, líder sindical e dirigente da frente de resistência contra o golpe estado, segundo um jornal.
O inimigo interno havia sido localizado. "Hoje, o tema é futebol, mas há um grupo de colegas que quer, pede e grita que Honduras perca para El Salvador. Este grupo de hondurenhos pertence à chamada resistência zelaysta", dizia El Heraldo. Os e-mails com insultos à resistência, então, não tardaram a invadir o site na Internet do diario.
O inimigo, esse inimigo de que falou Micheletti, entrou em Honduras em 14 de julho de 1969. Ele fez isso em resposta à lei de reforma agrária com a qual o governo de Tegucigalpa tentou expulsar centenas de milhares de camponeses salvadorenhos e, assim, entregar essas terras a hondurenhos.
Três partidas entre os dois países pelas eliminatórias se encarregaram de insulflar os ânimos nacionalistas. Naquela época, em ambos os lados da fronteira havia ditaduras militares. Hoje, apenas Honduras mantém o costume, em El Salvador, no entanto, governa a esquerdista Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.
Com a vitória de Honduras, ontem, no jogo contra El Salvador, a euforia do povo e as comemorações continuaram a tomar conta do noticiário. E o governo de fato decretou feriado nacional.
"Neste país o futebol é usado para tudo. Como a ditadura não o iria espremer ao máximo?", disse Reina Centeno, professora e líder sindical. Qualquer semelhança com outras latitudes não é mera coincidência.
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