Senador Eduardo Azeredo
O Supremo Tribunal Federal (STF) começa a analisar nesta quarta-feira (4) se aceita a denúncia apresentada pelo ex-procurador-geral da República Antonio Fernando Souza contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O procurador acusa Azeredo dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, ocorridos na campanha para sua reeleição ao governo de Minas, em 1998.
Caso a denúncia contra o senador seja aceita, ele passará a figurar como réu em ação penal no STF.
Por decisão do ministro Joaquim Barbosa, em maio deste ano, o inquérito foi desmembrado. Apenas Azeredo permaneceu investigado no STF. Foi transferida para a Justiça Federal em Minas a responsabilidade de analisar o processo quanto a Marcos Valério e outros investigados.
De acordo com a denúncia, o esquema conhecido por mensalão mineiro, tucanoduto ou valerioduto, capturou mais de R$ 100 milhões, com desvio de verbas de estatais e empréstimos bancários. Oficialmente, a campanha de Azeredo custou R$ 8 milhões.
A intermediação entre o núcleo da campanha e os políticos favorecidos ficou a cargo da SMP&B, a agência do publicitário Marcos Valério, que, segundo a Polícia Federal (PF), lavou parte do dinheiro com notas fiscais frias. Foi um modo de operar que serviu de laboratório de testes para o que, quatro anos depois, viria a ser o mensalão federal.
Essa forma de caixa 2 teria sido usada em âmbito nacional em campanhas do PT, dando origem à crise enfrentada pelo governo federal em 2005.
De acordo com o relatório da PF, "constatou-se a existência de complexa organização criminosa que atuava a partir de uma divisão muito aprofundada de tarefas, disposta de estruturas herméticas e hierarquizadas, constituída de maneira metódica e duradoura, com o objetivo claro de obter ganhos os mais elevados possíveis, através da prática de ilícitos e do exercício de influência na política e economia local".
Com base nas informações reveladas nesse relatório fica fácil entender por que houve tanta pressão dos tucanos e até a complacência do PT para não se abrir uma CPI exclusiva para esse caso.
Na ocasião, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que presidia a chamada CPI dos Correios, classificou de "documento apócrifo" a lista elaborada pelo então coordenador financeiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão, e que serviu de base para o trabalho da PF.
Outra curiosidade: a denúncia da lista tinha sido feita por um companheiro do próprio partido de Delcídio, o então deputado estadual mineiro Rogério Correia. Mais curioso ainda: Paulo Abi-Ackel, o filho do deputado Ibrahim Abi-Ackel, relator da CPI da Compra de Votos (e que também poderia ter investigado o caixa 2 mineiro), recebeu R$ 50 mil do esquema. Ele disse à polícia que prestou serviços de advocacia à campanha.
Sobrestar a denúncia
Há meses a papelada rolava para lá, rolava para cá, mas ficava no mesmo lugar.
É fácil explicar. Quando surgiram as denúncias e provas que Azeredo criou um esquema gerido por Marcos Valério para colher dinheiro e tentar reeleger-se governador de Minas, o senador tratou de avisar a FHC que se algo lhe acontecesse de ruim iria jogar “toda a sujeira tucana no ventilador”.
FHC chamou Gilmar e deu a ordem: “Nada de ruim pode acontecer a Azeredo, do contrário estamos todos lascados”.
Gilmar cumpriu à risca sobrestar a denúncia contra o senador.
Trajetória pífia
Azeredo foi eleito vice-prefeito de Belo Horizonte em 1988, na chapa de Pimenta da Veiga. Pimenta renunciou um ano e meio após a eleição, para disputar o governo do Estado, e foi derrotado por Hélio Garcia. Azeredo virou prefeito até o final de 1992.
Em 1994, foi eleito governador de Minas por absoluta falta de opção do eleitorado.
Três candidatos disputavam o governo. O atual vice-presidente José Alencar, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e Azeredo. Por algo menor que um por cento, Hélio Costa não levou as eleições no primeiro turno. Perdeu-as no segundo turno para Azeredo.
O hoje senador nunca foi levado a sério no mundo do tucanato. Prefeito por circunstâncias imprevistas, virou candidato a governador quando se achava que ninguém conseguiria derrotar Hélio Costa. Uma espécie de “vai lá, disputa e pronto”.
Segundo mandato
Em 1998, quem andou no fio da navalha foi FHC. O presidente tratou de comprar um segundo mandato. Uma espécie de “liberou geral” no Congresso Nacional.
Leilão de concessões de rádio, TV, dinheiro vivo, tudo sob a coordenação de Sérgio Motta (ministro das Comunicações à época) e ACM, então figura maior do conjunto de máfias do Congresso.
Comprados os deputados e senadores e “aprovada” a reeleição, FHC enfrentou o desafio de Itamar Franco.
Itamar colocava em risco a reeleição de FHC
O ex-presidente decidiu então ser candidato ao governo de Minas e mandou um recado claro a FHC: “Qualquer problema e eu boto a boca no trombone”. O outro candidato era Azeredo, que disputava a reeleição.
FHC pouco apareceu em Minas e no segundo turno das eleições para o governo daquele Estado, indagado sobre seu candidato respondeu: “Os mineiros é que decidem quem deve governar Minas”.
Só que, na mesma entrevista, havia defendido, minutos antes, o voto em candidatos tucanos em outros Estados. Quer dizer, jogou Azeredo às feras.
Itamar foi eleito governador do Estado. Sem mandato, Azeredo esperou as eleições de 2002 e candidatou-se ao Senado. Eram duas vagas em disputa. Uma para ele, outra para Hélio Costa.
Sem o trio que o orientava no governo de Minas, (sua mulher; Mares Guia – vice-governador; e Roberto Brant – renunciou ao mandato de deputado para não ser cassado por corrupção) Azeredo cumpre mandato melancólico no Senado.
Adversários políticos dizem que ele “é uma espécie de depósito de projetos e serviços sujos”.
Parlamentares experientes sempre ressaltaram que Azeredo atua como “laranja” de interesses inconfessáveis no Senado.
“Sem votos em Minas, Azeredo não vai ser candidato à reeleição. Já cumpriu o papel que lhe cabia cumprir, vai para o almoxarifado dos inúteis, deve virar deputado federal”, revelou um ex-assessor do senador, que não quis ser identificado.
Azeredo pode liquidar FHC
O senador já mandou avisar a FHC que, ou o ex-presidente “segura o trem” com Gilmar Mendes, trata de arrumar um jeito de arquivar o inquérito, ou então vai revelar “todo o esquema podre que ninguém ainda conhece”.
O valerioduto de Azeredo ou mensalão mineiro atuou intensamente no governo FHC.
De fato, há inquéritos e processos, na moita, sobre o tema para todo lado. A SMP&B e DNA atuaram na Fundacentro, no BB Visa e em vários outros órgãos da administração federal.
O ex-ministro do Trabalho, Paulo Paiva, ligado ao tucanato mineiro, que comandava a Fundacentro, levou as ventosas de Marcos Valério para lá.
A seguir, algumas das pessoas do governo FHC ligadas ao que aconteceu na Fundacentro.
Paulo Paiva - muito próximo de FHC - foi o ministro do Trabalho dos tucanos. Indicou Marco Antônio de Abreu Rocha para diretor administrativo e financeiro da Fundacentro.
Humberto Carlos Parro, do PSDB, também amigo de FHC, passou a dirigir a Fundacentro. Depois, ocupou cargo na Emplasa, no governo de Alckmin. Parro é o principal réu na Ação Civil Pública iniciada em abril de 2002 pela procuradora da República, Isabel Cristina Groba Vieira.
Parro é acusado de ter ratificado e homologado uma licitação fraudulenta, que permitiu às duas empresas de publicidade, citadas anteriormente, um estrondoso enriquecimento ilícito, e de não ter fiscalizado a execução dos contratos, dando margem a orçamentos forjados que foram produzidos, pagamentos por serviços não executados e superfaturados, honorários indevidos.
Marco Antônio Seabra de Abreu Rocha é o segundo réu. Passou a ser diretor administrativo e financeiro da Fundacentro. Foi indicado por Paulo Paiva, via Hélio Garcia. Tinha delegação especial de Parro para autorizar isoladamente o pagamento de qualquer tipo de despesa.
José Carlos Crozera – na época assessor de comunicação da Fundacentro – é o terceiro réu.
O desvio de dinheiro público da Fundacentro é alvo de investigação "congelada" na Justiça Federal.
Da mesma forma, o inquérito judicial da Lista de Furnas encontra-se “congelado” na Justiça Federal do Rio de Janeiro. O juiz do caso decretou segredo de Justiça, dificultando o andamento do processo, apesar dele somar provas irrefutáveis da prática de caixa 2.
O tucanato de alta plumagem possui fortes tentáculos no Judiciário a ponto de paralisar as principais investigações.
Mudança de postura
O empresário Marcos Valério concordou em falar com a reportagem do Novojornal, ocasião em que revelou que vai mudar de postura, porque não gostou de ver a maioria das acusações cair sobre sua cabeça.
Ele ressaltou que está interessado, agora, em denunciar todo o esquema do mensalão, inclusive o envolvimento de boa parte de políticos mineiros graúdos que ficaram – “inexplicavelmente” – de fora das investigações.
Valério afirmou ainda que está acompanhando com atenção o desenrolar dos acontecimentos e prometeu “derrubar a República” caso seja crucificado.
Caso a denúncia contra o senador seja aceita, ele passará a figurar como réu em ação penal no STF.
Por decisão do ministro Joaquim Barbosa, em maio deste ano, o inquérito foi desmembrado. Apenas Azeredo permaneceu investigado no STF. Foi transferida para a Justiça Federal em Minas a responsabilidade de analisar o processo quanto a Marcos Valério e outros investigados.
De acordo com a denúncia, o esquema conhecido por mensalão mineiro, tucanoduto ou valerioduto, capturou mais de R$ 100 milhões, com desvio de verbas de estatais e empréstimos bancários. Oficialmente, a campanha de Azeredo custou R$ 8 milhões.
A intermediação entre o núcleo da campanha e os políticos favorecidos ficou a cargo da SMP&B, a agência do publicitário Marcos Valério, que, segundo a Polícia Federal (PF), lavou parte do dinheiro com notas fiscais frias. Foi um modo de operar que serviu de laboratório de testes para o que, quatro anos depois, viria a ser o mensalão federal.
Essa forma de caixa 2 teria sido usada em âmbito nacional em campanhas do PT, dando origem à crise enfrentada pelo governo federal em 2005.
De acordo com o relatório da PF, "constatou-se a existência de complexa organização criminosa que atuava a partir de uma divisão muito aprofundada de tarefas, disposta de estruturas herméticas e hierarquizadas, constituída de maneira metódica e duradoura, com o objetivo claro de obter ganhos os mais elevados possíveis, através da prática de ilícitos e do exercício de influência na política e economia local".
Com base nas informações reveladas nesse relatório fica fácil entender por que houve tanta pressão dos tucanos e até a complacência do PT para não se abrir uma CPI exclusiva para esse caso.
Na ocasião, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que presidia a chamada CPI dos Correios, classificou de "documento apócrifo" a lista elaborada pelo então coordenador financeiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão, e que serviu de base para o trabalho da PF.
Outra curiosidade: a denúncia da lista tinha sido feita por um companheiro do próprio partido de Delcídio, o então deputado estadual mineiro Rogério Correia. Mais curioso ainda: Paulo Abi-Ackel, o filho do deputado Ibrahim Abi-Ackel, relator da CPI da Compra de Votos (e que também poderia ter investigado o caixa 2 mineiro), recebeu R$ 50 mil do esquema. Ele disse à polícia que prestou serviços de advocacia à campanha.
Sobrestar a denúncia
Há meses a papelada rolava para lá, rolava para cá, mas ficava no mesmo lugar.
É fácil explicar. Quando surgiram as denúncias e provas que Azeredo criou um esquema gerido por Marcos Valério para colher dinheiro e tentar reeleger-se governador de Minas, o senador tratou de avisar a FHC que se algo lhe acontecesse de ruim iria jogar “toda a sujeira tucana no ventilador”.
FHC chamou Gilmar e deu a ordem: “Nada de ruim pode acontecer a Azeredo, do contrário estamos todos lascados”.
Gilmar cumpriu à risca sobrestar a denúncia contra o senador.
Trajetória pífia
Azeredo foi eleito vice-prefeito de Belo Horizonte em 1988, na chapa de Pimenta da Veiga. Pimenta renunciou um ano e meio após a eleição, para disputar o governo do Estado, e foi derrotado por Hélio Garcia. Azeredo virou prefeito até o final de 1992.
Em 1994, foi eleito governador de Minas por absoluta falta de opção do eleitorado.
Três candidatos disputavam o governo. O atual vice-presidente José Alencar, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e Azeredo. Por algo menor que um por cento, Hélio Costa não levou as eleições no primeiro turno. Perdeu-as no segundo turno para Azeredo.
O hoje senador nunca foi levado a sério no mundo do tucanato. Prefeito por circunstâncias imprevistas, virou candidato a governador quando se achava que ninguém conseguiria derrotar Hélio Costa. Uma espécie de “vai lá, disputa e pronto”.
Segundo mandato
Em 1998, quem andou no fio da navalha foi FHC. O presidente tratou de comprar um segundo mandato. Uma espécie de “liberou geral” no Congresso Nacional.
Leilão de concessões de rádio, TV, dinheiro vivo, tudo sob a coordenação de Sérgio Motta (ministro das Comunicações à época) e ACM, então figura maior do conjunto de máfias do Congresso.
Comprados os deputados e senadores e “aprovada” a reeleição, FHC enfrentou o desafio de Itamar Franco.
Itamar colocava em risco a reeleição de FHC
O ex-presidente decidiu então ser candidato ao governo de Minas e mandou um recado claro a FHC: “Qualquer problema e eu boto a boca no trombone”. O outro candidato era Azeredo, que disputava a reeleição.
FHC pouco apareceu em Minas e no segundo turno das eleições para o governo daquele Estado, indagado sobre seu candidato respondeu: “Os mineiros é que decidem quem deve governar Minas”.
Só que, na mesma entrevista, havia defendido, minutos antes, o voto em candidatos tucanos em outros Estados. Quer dizer, jogou Azeredo às feras.
Itamar foi eleito governador do Estado. Sem mandato, Azeredo esperou as eleições de 2002 e candidatou-se ao Senado. Eram duas vagas em disputa. Uma para ele, outra para Hélio Costa.
Sem o trio que o orientava no governo de Minas, (sua mulher; Mares Guia – vice-governador; e Roberto Brant – renunciou ao mandato de deputado para não ser cassado por corrupção) Azeredo cumpre mandato melancólico no Senado.
Adversários políticos dizem que ele “é uma espécie de depósito de projetos e serviços sujos”.
Parlamentares experientes sempre ressaltaram que Azeredo atua como “laranja” de interesses inconfessáveis no Senado.
“Sem votos em Minas, Azeredo não vai ser candidato à reeleição. Já cumpriu o papel que lhe cabia cumprir, vai para o almoxarifado dos inúteis, deve virar deputado federal”, revelou um ex-assessor do senador, que não quis ser identificado.
Azeredo pode liquidar FHC
O senador já mandou avisar a FHC que, ou o ex-presidente “segura o trem” com Gilmar Mendes, trata de arrumar um jeito de arquivar o inquérito, ou então vai revelar “todo o esquema podre que ninguém ainda conhece”.
O valerioduto de Azeredo ou mensalão mineiro atuou intensamente no governo FHC.
De fato, há inquéritos e processos, na moita, sobre o tema para todo lado. A SMP&B e DNA atuaram na Fundacentro, no BB Visa e em vários outros órgãos da administração federal.
O ex-ministro do Trabalho, Paulo Paiva, ligado ao tucanato mineiro, que comandava a Fundacentro, levou as ventosas de Marcos Valério para lá.
A seguir, algumas das pessoas do governo FHC ligadas ao que aconteceu na Fundacentro.
Paulo Paiva - muito próximo de FHC - foi o ministro do Trabalho dos tucanos. Indicou Marco Antônio de Abreu Rocha para diretor administrativo e financeiro da Fundacentro.
Humberto Carlos Parro, do PSDB, também amigo de FHC, passou a dirigir a Fundacentro. Depois, ocupou cargo na Emplasa, no governo de Alckmin. Parro é o principal réu na Ação Civil Pública iniciada em abril de 2002 pela procuradora da República, Isabel Cristina Groba Vieira.
Parro é acusado de ter ratificado e homologado uma licitação fraudulenta, que permitiu às duas empresas de publicidade, citadas anteriormente, um estrondoso enriquecimento ilícito, e de não ter fiscalizado a execução dos contratos, dando margem a orçamentos forjados que foram produzidos, pagamentos por serviços não executados e superfaturados, honorários indevidos.
Marco Antônio Seabra de Abreu Rocha é o segundo réu. Passou a ser diretor administrativo e financeiro da Fundacentro. Foi indicado por Paulo Paiva, via Hélio Garcia. Tinha delegação especial de Parro para autorizar isoladamente o pagamento de qualquer tipo de despesa.
José Carlos Crozera – na época assessor de comunicação da Fundacentro – é o terceiro réu.
O desvio de dinheiro público da Fundacentro é alvo de investigação "congelada" na Justiça Federal.
Da mesma forma, o inquérito judicial da Lista de Furnas encontra-se “congelado” na Justiça Federal do Rio de Janeiro. O juiz do caso decretou segredo de Justiça, dificultando o andamento do processo, apesar dele somar provas irrefutáveis da prática de caixa 2.
O tucanato de alta plumagem possui fortes tentáculos no Judiciário a ponto de paralisar as principais investigações.
Mudança de postura
O empresário Marcos Valério concordou em falar com a reportagem do Novojornal, ocasião em que revelou que vai mudar de postura, porque não gostou de ver a maioria das acusações cair sobre sua cabeça.
Ele ressaltou que está interessado, agora, em denunciar todo o esquema do mensalão, inclusive o envolvimento de boa parte de políticos mineiros graúdos que ficaram – “inexplicavelmente” – de fora das investigações.
Valério afirmou ainda que está acompanhando com atenção o desenrolar dos acontecimentos e prometeu “derrubar a República” caso seja crucificado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário