segunda-feira, 16 de novembro de 2009

NO "OPALPITEIRO"

Palpite sob encomenta: Política e Apagão

Qualquer um que tenha um mínimo de curiosidade sobre o fornecimento de energia elétrica aprenderá que em qualquer país do mundo ele possui 3 etapas. Geração, transmissão e distribuição.

Interrupções desse fornecimento podem ocorrer pela explosão de um transformador da rua, uma queda de poste ou mesmo um chuva mais forte. Em geral essas interrupções são localizadas e atingem um número pequeno de pessoas. Quando ocorrem com frequência o mais provável é que a empresa distribuidora esteja sendo ineficiente com a manutenção da rede. Ou que não tem atendido ao ritmo de consumo que o determinado lugar apresenta.

Interrupções nas linhas de transmissão são mais graves. Os fluxos de energia são muito maiores e as consequências mais abrangentes. No Brasil há a manutenção preventiva e equipes de emergência contam até com helicoptéros para resolver problemas. Cada minuto de falta de energia pode resultar na morte de pessoas em hospitais, acidentes nas cidades e prejuízos gigantescos para grandes empresas consumidoras. Empresários de empresas brasileiras e gestores de multinacionais tem um poder maior do que a população sobre os governantes, razão pela qual o setor elétrico é mais vigiado, monitorado e portanto eficiente.

Quando o problema é na geradora a situação é mais complexa. Pois se a energia gerada for maior do que o consumo, só há duas alternativas: aumentar a geração ou reduzir o consumo.

O aumento da geração é difícil. Uma geradora de eletricidade é cara e pode demorar 2 anos para ficar pronta, se for de origem térmica, com o uso do gás natural por exemplo. Uma hidrelétrica pode demorar 5 anos ou mais para a sua conclusão, a depender do seu tamanho e do ritmo de investimento.

No governo FHC houve uma forte redução nos investimentos em geradoras. A aposta era a de que investidores salvariam o Brasil e construiriam as geradoras que o Brasil precisava. Mas os estrangeiros queriam uma garantia: as tarifas seriam reajustadas pelo dólar. Investiriam em dólar e em dólar queriam assegurar os seus lucros. Na época, apenas a equipe de FHC, a Míriam Leitão e uma manada de ingênuos acreditava que o dólar não subiria. Muita gente sábia duvidava disso. FHC preferiu não arriscar e nunca aceitou um sistema de tarifas dolarizado, como na Argentina da época.

Os estrangeiros não investiram e o Brasil ficou sem geradoras, pois o governo também não investiu. A solução foi apelar para a sorte. Um hidrelétrica nunca trabalha com 100% de sua capacidade. Se tem 5 turbinas, utiliza no máximo 4. Uma ficará em manutenção preventiva, prontinha para o uso. Se uma outras 4 quebrar, a reserva entra em operação. E assim nunca falta energia.

A equipe de FHC arriscou. Botou as hidrelétricas para funcionarem a quase 100% da capacidade. O problema é que mais turbina em operação significa mais água indo embora. Entre 1995 e 1998 choveu o suficiente para garantir a aposta. Em 1999, 2000 e 2001 não.

Com a escassez de chuvas o risco de apagão ficou maior. Houve um em 1999, também por volta das 22:00h, e outro em 2001, na hora do almoço. O governo FHC resolveu atacar no consumo. Sobretaxou as contas e ameaçou com multas aqueles que ultrapassassem o consumo médio dos últimos meses. Mandou construir termelétricas a gás natural a toque de caixa. O PIB perdeu força de crescimento, a inflação aumentou com as tarifas, os empresários ficaram bravos e FHC queimou o seu filme. A mídia Fernandista ajudou no terrorismo e o consumo caiu.

Parte do problema elétrico de FHC foi privatizar a transmissão e a distribuição. Negócio bom, pois uma geradora exige muito mais investimentos do que linhas de transmissão e redes de distribuição. Compraram o filé mignon e deixaram o osso para o Estado.

Lula ganhou a eleição em 2002 e teve o apoio de empresários que estavam cansados do falatório de FHC. Claro, ainda havia empresários pró-FHC, principalmente aqueles que ganharam dinheiro com as empresas privatizadas/doadas.

Lula nomeou Dilma Roussef para ministra das Minas e Energia, que por sua vez escalou a equipe da UFRJ especializada no assunto. Luis Pinguele Rosa à frente, o diretor da Coppe, da UFRJ.

A estratégia foi aproveitar o que já havia funcionando. Estimular a construção de geradoras fazia parte, mas para correr contra o tempo, construíram linhas de transmissão para aumentar a integração do sistema nacional de eletricidade. A idéia foi simples. Uma geradora no nordeste poderia ter capacidade excedente. No caso de falta de energia em SP, utilizaria-se energia do RJ, que por sua vez teria o fornecimento da geradora do Nordeste.

A idéia foi bem sucedida e Dilma ganhou fama de boa gestora. Além disso, a mulher descobriu por dentro muitos dos esquemas de corrupção de roubo do governo FHC no setor elétrico. Monstros capazes de destruir gente do PSDB e do DEM. Dilma nunca denunciou esses esquemas e ficou com a carta na manga.

Em 2005 estourou o escândalo do mensalão. No auge da encrenca Lula demitiu José Dirceu do Ministério da Casa Civil e nomeou Dilma. O recado foi simples: "se vocês continuarem a denunciar os nossos esquemas, denunciamos os de vocês." PSDB e DEM recuaram. E Dilma não abriu a boca até agora.

Desde então Dilma é a Bomba Atômica de Lula. Não por acaso a escolheu como sua candidata. Dilma é um perigo pelo que sabe e pelo que poderia falar. A oposição precisa detonar a mulher para ganhar a eleição em 2010 mas sabe que não pode pegar muito pesado. Os telhados não são de vidro, mas de cristal...

Na última terça-feira houve um apagão que afetou vários Estados. Um palpiteiro estava numa sala de aula na Av. Paulista com mais de 100 alunos quando tudo escureceu...

Horas depois a energia voltou aos poucos.

A explicação do governo é a de que houve um problema nas linhas de transmissão que obrigaram a uma interrupção da geração. Itaipu parou e as outras geradoras do sistema nacional não supriram tamanha ausência.

O discurso da oposição é o do terrorismo. Prega uma crise energética e de quebra acusa o governo e Dilma de incompetência no setor. Globo, Joven Pan CBN, Estadão e Folha ajudam. Sim, pois outras acusações não podem dar, sob o risco do feitiço virar contra os feiticeiros.

O palpiteiro não sabe sinceramente o que aconteceu. Ao que parece foi um problema pontual, que poderia ocorrer em qualquer circunstância. Como um acidente de avião. Essa hipótese livra a cara do governo e dá uma certa tranquilidade, pois problemas desse tipo ajudam a aumentar a eficiência do setor e a criar mecanismos mais seguros.

Mas também pode haver problemas de gestão. E eventualmente o país pode estar na perigosa condição de estar no limite entre geração e consumo, como nos tempos de FHC. Desta vez não por falta de geradoras, mas por um ritmo de crescimento maior do que o previsto. O que significa também falta de geradoras, mas por erro de cálculo.

Se nenhum outro apagão ocorrer nos próximos 4 ou 5 anos, prevalece a tese do governo. Caso ocorra um outro apagão em menos de 1 ano, fica forte a tese da oposição, ou seja, o de que vivemos uma outra crise energética.

Haverá sempre a possibilidade de sabotagem e do acaso para tornar esse dilema mais emocionante. Mas pelo menos, até agora, há energia disponível, a tentativa de tornar um problema pior do que realmente é, e uma quantidade boa de gente no governo torcendo para que não ocorram novas interrupções.

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