PROFESSORES MINEIROS PEDEM SOCORRO, José de Souza Castro(*)
Não é de hoje que venho escrevendo, inclusive aqui, sobre a importância de uma imprensa independente dos órgãos públicos para a população de um estado como Minas Gerais, coisa que ela praticamente desconhece ao longo de sua história. Isso que vemos hoje, com nossos principais jornais, rádios e televisões, atrelados às verbas públicas, e submissos, em relação ao noticiário, aos interesses dos governantes, não é nenhuma novidade. A novidade talvez seja a presença cada vez maior da Internet, meio utilizado por muitos que não se fazem ouvir pelos veículos tradicionais e recorrem a ela para um grito de socorro.
Esse nariz de cera é para informar que o professor Massote me encaminhou hoje um vídeo que está sendo divulgado pela Internet, sem assinatura e sem data, mas que trata de um tema importante. O se apresenta como professor de Matemática do Estado, efetivado por concurso público, e afirma dar aulas para alunos do 3º ano do 2º grau. Diz que seu piso salarial é de 545 reais.
Talvez o vídeo seja antigo, porque no fim de 2007 a secretária estadual de Educação, Vanessa Guimarães, deu entrevista durante a entrega do Prêmio Minas de Educação, afirmando que havia encaminhado à equipe econômica do governador Aécio Neves proposta para elevar o piso salarial dos professores a 800 reais, a partir de janeiro de 2008.
“Qualquer que seja o índice geral de aumento, nós queremos que a partir de janeiro esse piso que o governo está propondo nacionalmente para acontecer dentro de três anos, para 40 horas, em Minas ele aconteça em janeiro, para 24 horas, de uma única vez. De modo que não teremos nenhum professor com tempo parcial menor que 850 reais de remuneração”, afirmou a secretária de Educação. Um repórter perguntou se os professores podiam ter esperança de que sua proposta seria acatada por Aécio Neves.
– Esperança, podem. Eu me sinto na obrigação e dever de ter essa esperança.
Será quanto ganha um secretário de Estado em Minas? Mas isso não vem ao caso, embora o salário que recebe Vanessa Guimarães não seja nada desesperador. O fato é que aquele professor do vídeo – que aliás escreve mal, com vários erros de ortografia, mas isso não é relevante, pois ele dá aulas de Matemática, não de Português – parece, como muitos de nós, um desesperançado. Alguns trechos do vídeo: “Recebo por mês R$ 33,00 de auxílio transporte e gasto por mês no transporte cerca de R$ 200,00”. “Não temos nenhum tipo de apoio, estamos humilhados perante a sociedade”. “Como incentivar os alunos a estudarem se eu que estudei não tenho condições dignas de viver?” “Vestimos mal, comemos mal, dormimos mal, estamos desmotivados e ‘a’ mais de dez anos sem sequer ter reposição salarial”.
Faço uma pesquisa no Google nesta manhã chuvosa de dezembro, sem ânimo para alguns telefonemas, e vejo que em 15 de agosto de 2008 o governador Aécio Neves anunciou, em entrevista, que seria pago, juntamente com o salário de setembro, bônus para 240 mil funcionários públicos em atividade (os aposentados, como sempre, estão fora, se preparando para morrer de inanição) num total de cerca de 200 milhões de reais. Entre eles, os professores. Esse prêmio por produtividade havia sido instituído no ano anterior para os funcionários da Educação. Já era pago para funcionários de alguns outros setores considerados prioritários, como parte do chamado “Choque de Gestão” criado em má hora (para os aposentados e inativos) por Aécio Neves.
Então, o vídeo do nosso professor de Matemática é mesmo antigo? Não é, pois quase no finalzinho ele nos dá uma informação que só chegou ao público mineiro em meados deste ano: o valor da obra do Centro Administrativo de Minas Gerais. Afirma o vídeo:
“O governo de Minas diz que não tem dinheiro em caixa para melhorar o salário dos professores mas para construir um palácio de R$ 1.200.000.000,00 ele tem. É um valor suficiente para construir e equipar quatro hospitais como o Instituto do Câncer de São Paulo, o antigo Instituto da Mulher, considerado o maior dessa especialidade na América Latina com 474 leitos. E ainda sobrariam R$ 120 milhões, o suficiente para um hospital de médio porte com 200 leitos”.
O autor do vídeo conclui pedindo: “Repassem esta mensagem para sua lista de contatos. Não temos voz na mídia e precisamos da Internet para que a população saiba o que acontece nas escolas públicas de Minas Gerais. Mandem seu manifesto de apoio para: profdeminasnamiseria@yahoo.com.br.”
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