quinta-feira, 1 de abril de 2010

Serra faz balanço de uma gestão fraca, burocrática e sem brilho

Num tom abertamente eleitoral, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), promove hoje um megaevento para 5 mil convidados. O mote será a apresentação de um balanço de sua gestão à frente do governo paulista. Serra deixa o governo nesta semana para se candidatar à Presidência da República pelo PSDB. O balanço será recheado de pompa e números, mas dificilmente conseguirá mascarar uma gestão que foi marcada pelo burocratismo, a truculência e a negligência com as áreas sociais.

Um levantamento feito pela bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo em outubro do ano passado revela que a administração de Serra conseguiu ser ainda pior que a de seu antecessor Geraldo Alckmin. "A administração do governador (Serra) revela a marca de um programa próprio de aceleração do "crescimento". Iniciado em janeiro de 2007, o governo Serra acelerou o crescimento da carga tributária cobrada dos contribuintes; das vendas de bens públicos ao setor privado; da terceirização de serviços públicos; da tolerância com os grandes devedores e do calote aos credores de precatórios. Ao mesmo tempo, reduziu a participação dos gastos com Educação, Saúde e Segurança no orçamento estadual", diz o estudo, embasado em números obtidos junto à própria administração tucana. Leia mais aqui

Decadência econômica

Em artigo publicado nesta terça-feira (30) na Folha de S. Paulo, o economista Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela que "entre 1990 e 2005, o Estado paulista registrou o segundo pior desempenho em termos de dinamismo econômico nacional, somente superando o Rio de Janeiro, último colocado entre os desempenhos das 27 unidades da Federação".

Segundo Pochmann, atualmente, o Estado paulista responde por menos de um terço da ocupação industrial nacional -na década de 1980, era responsável por mais de dois quintos dos postos de trabalho em manufatura.

"Simultaneamente, concentra significativo contingente de desempregados, com abrigo de um quarto de toda mão de obra excedente do país -há três décadas registrava somente um quinto dos brasileiros sem trabalho. Em consequência, percebe-se a perda de importância relativa no total da ocupação nacional, que decaiu de um quinto para um quarto na virada do século passado para o presente", relata o economista.

A edição desta quarta-feira (31) do jornal Valor Econômico confirma a decadência econômica de São Paulo ao revelar que a participação da região Nordeste no comércio de varejo cresceu três pontos nos últimos doze meses, diminuindo fatias de SP e do Sul.

Um balanço paralelo feito pelo jornal em relação aos três anos e três meses de administração do governador José Serra mostra que o tucano aumentou a arrecadação tributária, intensificou a privatização, aumentou o endivididamento do estado, produziu avanços apenas tímidos na educação e, na área de segurança pública, assiste a um aumento na taxa de homicídios.

Obras viárias e nada mais

O pouco que o governador José Serra tem a mostrar de realizações para os eleitores são algumas obras viárias, cujos projetos já tinham sido iniciados em gestões anteriores, como o Rodoanel e a expansão das linhas do Metrô.

Para financiar as obras de infraestrutura, Serra ampliou as operações de crédito e aumentou o endividamento de São Paulo. Nesta semana, o governo federal ampliou a capacidade de endividamento do Estado em R$ 3,3 bilhões. Com a medida, o limite de empréstimos salta de R$ 11,6 bilhões para R$ 14,9 bilhões. Os recursos devem ir para a construção do trecho Norte do Rodoanel e para construção de um veículo leve sobre trilhos.

O foco dos investimentos é a área de Transportes. A previsão deste ano é que o governo gaste 56% do total de investimentos com transporte. Ao mesmo tempo, os gastos com pessoal e encargos sociais foram drasticamente reduzidos. Em 2007, os gastos correspondiam a 38,19% do total de despesas. Em 2009, reduziu esse percentual a 32,53%. A redução de gastos nestas áreas costuma vir acompanhada de queda na qualidade dos serviços públicos.

Mesmo com tanto dinheiro gasto em obras viárias, Serra deixa o governo sem ter inaugurado oficialmente duas grandes obras que eram esperadas para marcar o fim de sua gestão: o Trecho Sul do Rodoanel e as estações do Metrô da Linha 4 (Amarela). O trecho do Rodoanel atrasou mais de dois anos e as obras do Metrô foram marcadas por acidentes e falhas no projeto que comprometeram a agenda de inaugurações.

Outro constrangimento recente enfrentado pelo governador foi a falta de iniciativa para enfrentar os graves problemas causados pelas enchentes em São Paulo.

Dezenas de CPIs engavetadas

Apesar do fiasco comprovado em números, as sucessivas gestões tucanas em São Paulo (o PSDB governa o Estado desde 1995) conseguem manter o verniz de "competência" e "modernidade" graças a dois fatores muito palpáveis: a proteção da mídia paulista que está sempre pronta para enaltecer os tucanos e esconder os problemas que emanam do Palácio dos Bandeirantes; e a blindagem feita pela maioria governista na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp). Dominada por parlamentares conservadores alinhados com o tucanato, a Alesp já providenciou o engavetamento de mais de seis dezenas de CPIs que buscavam investigar desde suspeitas de crimes de corrupção envolvendo autoridades do executivo paulista até problemas de gestão em setores como educação e saúde.

Falta de diálogo com os trabalhadores


Mas a pá de cal nesta administração sem brilho é, sem dúvida, o fato de Serra renunciar ao governo deixando nas mãos de seu vice. Albero Goldman, um estado com três categorias do funcionalismo em greve: os professores, servidores da saúde e agentes penitenciários.

Durante toda sua gestão, Serra recusou-se a negociar com os sindicatos que representam os funcionários públicos do Estado. Em 2008, um grave confronto entre policiais militares e policias civis em greve expôs o modo tucano de lidar com as reivindicações do funcionalismo.

Matéria postada hoje no site da Agência Carta Maior detalha a relação de Serra com os servidores comparando a gestão tucana de São Paulo com o governo da também tucana Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. "Integram essas táticas, entre outras, duas medidas básicas: reprimir violentamente protestos e manifestações de ruas e infiltrar policiais a paisana nestes protestos e manifestações", diz a matéria. Leia mais aqui 

Serra já confirmou que lançará sua candidatura ao Palácio do Planalto no começo de abril. Segundo o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o lançamento da candidatura será no dia 10 de abril, em Brasília.


Cláudio Gonzalez

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