domingo, 25 de abril de 2010

Tucanos ou papagaios?


Poucas coisas têm deixado os tucanos mais em êxtase do que meter o... bico em Lula e Dilma, no que diz respeito à propaganda eleitoral antecipada, prática essa que já "rendeu" ao presidente duas multas do TSE.

O presidente do ninho tucano, senador Sérgio Guerra, criticou o que chamou de desobediência de Lula às leis eleitorais.

Por sua vez, o tucano-pavão FHC, com aquele ar professoral, empolado e afetado de sempre, dourou a pílula: Em primeiro lugar, decisão de tribunal não se discute. Acho que o presidente Lula tem que refletir um pouco porque esta é a segunda vez em que é multado pelo TSE. Isso é inédito na história republicana. Foi chamado a atenção duas vezes pelo tribunal. Ele tem que mudar o comportamento. Quer dizer, ele tem que se comportar de acordo com a lei. É o mínimo que se espera de um presidente, arrematou Dom Fernando.

OK, senhores. O discurso parece coerente e pertinente. De fato, Lula, literalmente, não perde viagem. O presidente está numa fase que, tal como se fosse uma daquelas senhorinhas do interior, não desperdiça nem engano ao telefone. Se acontecer com ele, dará um jeito de dizer: Ô, minha filha! Não tem essa pessoa aqui não, mas nunca na história desse país... Dilma... blá-blá-blá... etc etc.

Mas e o Serra? Será que age diferente? Será que tem se comportado "de acordo com a lei"? Ou será que, com a tal caixa de livros nos ombros, aproveita que "não tem ninguém olhando" e dá uma de caixeiro-viajante, vendendo a si mesmo?

Vejamos um trecho do discurso de Serra na polêmica inauguração de um trecho do Rodoanel:

Eu estou na vida pública há muito tempo, desde quando eu fui eleito presidente da União Estadual dos Estudantes, desde que eu fui eleito presidente da UNE no Congresso de Santo André, quando o comando de caça aos comunistas vinha nos atacar com bombas, com terrorismo. Ali começou a minha vida pública, faz muito tempo. Agora, para mim a vida pública, ela se prolongou no exílio, porque eu me preparei sempre, eu estudei para voltar para o Brasil, sempre para voltar para cá e participar da luta pela reconstrução do país. Foi o que eu fiz.

Ingressei no Governo (Franco) Montoro como secretário. A partir daí fui deputado duas vezes. Constituinte, senador, fui ministro do Planejamento e Orçamento, ministro da Saúde - sem saber aplicar até hoje uma injeção - mas fui ministro da Saúde. Fui prefeito da Capital, fui governador de São Paulo, disputei a eleição de 2002 para presidente da República com o Lula, fui para o segundo turno. Enfim, tenho uma vida pública longa. Agora, a minha motivação nunca foi a motivação do prestígio, a motivação de ficar atraindo atenção. Eu tenho personalidade tímida, acreditem nisso, não gosto, às vezes fico incomodado quando fica todo mundo olhando para mim - eu queria às vezes entrar discretamente nos lugares. O ornamento do poder, a bajulação, todas essas coisas, nada disso me atrai. Eu não faria vida pública se fosse em troca dessas coisas. Meu único sentido de vida pública é me dedicar às questões do nosso povo. É fazer acontecer coisas boas para o povo brasileiro. É lutar sempre pela igualdade. Pode ser que a gente não chegue, a igualdade pode estar lá longe, mas o importante é sempre caminhar nessa direção. As nossas obras são todas obras, tenhamos isso claro, populares, porque servem ao trabalhador, servem ao emprego, economizam tempo de transporte, dão melhor saúde, dão melhor treinamento e qualificação para que possam subir na vida, para que tenham oportunidades aberta na vida. Esse é o meu sentido de militância na vida publica.

Se com Serra o Brasil pode mais, eu não sei. Talvez sejam mesmo equivalentes, ele e sua antagonista. Fato é que nessa aí, o tucano deu uma de papagaio, copiando o que há de pior - a famigerada propaganda eleitoral irregular - e derrubando o discurso de Sérgio Guerra e de FHC.

Então, por que o Serra pode mais? Com a palavra, o corpo jurídico do PT e o TSE.

Heitor Diniz

Jornalista

Nenhum comentário:

Marcadores