O Globo de 22/07 publica um artigo intitulado Jovem e desiludido. É mais uma xaropada para falar mal do Lula, da UNE e do movimento estudantil. O texto escamoteia uma verdade simples: uma das razões da suposta “desilusão” dos jovens é justamente o tratamento mesquinho, criminalizante, enfadonho, que a mídia dá à política. A mídia, como sempre, analisa um fenômeno sociológico como se ela, a mídia, não fosse um dos protagonistas do fenômeno.
Mas foi legal ler essa matéria para me deparar com aquele grupinho de estudantes que eu citei no post anterior, a Nova Organização Voluntária Estudantil, a Nove, formada, segundo o Globo, por estudantes que se uniram em 2009 para protestar contra o Enem e permaneceram como grupo estudantil “apartidário”.
Vamos comentar esse trecho da matéria:
(…) Bernardo Ainbinder, de 19 anos, diz que a desilusão vem de casa, “porque ouvimos desde pequeno, em casa e no colégio, que político é tudo igual”. A própria Nove pode ser exemplo do pouco interesse dos jovens: se ela teve 50 fundadores, hoje conta com oito membros.
- Muitos passaram a não ter mais tempo, ou viram que o grupo ainda precisava amadurecer, mas também houve saída por desinteresse – diz Ainbinder, aluno de relações internacionais da UFRJ, que também critica as entidades estudantis e as alas jovens dos partidos: – Embora esteja no estatuto dessas entidades que elas são apartidárias, o que a gente vê são “estudantes profissionais”, presidentes da UNE que saem para serem políticos, e um atrelamento ao governo.
A Ubes não atua. Perguntei na minha turma quem a conhecia, e só dois, de 60, levantaram a mão. A juventude dos partidos também não é atuante. Não há crítica ao programa do partido.
Repare que ele menciona a desilusão que “vem de casa”. Ou seja, esses jovens são filhos de uma classe média que vem sofrendo, há anos, uma lavagem cerebral promovida pelo jornal Globo (no caso dos fluminenses & cariocas). Não esqueçamos que, um dia após o golpe de Estado de 1964, houve uma passeata em Copacabana e Ipanema para comemorar e apoiar os militares. O jovem Ainbinder, em vez de aproveitar o espaço concedido pelo Globo, para se insurgir contra essa negatividade reacionária de seus pais, usa-o para reforçar os preconceitos contra a política, contra partidos, contra ideologias, contra o governo Lula.
Se tem pouca gente que conhece a Ubes, a culpa também é do Globo, porque as pessoas so conhecem aquilo que vêem na mídia.
Não estou botando a culpa de TUDO no Globo, um jornal reacionário e golpista, mas competente no que faz; não dá, no entanto, para suportar calado o Globo meter o malho nas entidades estudantis. Repare que ele faz uma matéria sobre a UNE e a UBES, mas não entrevista nenhum representante dessas entidades. Não, ele prefere entrevistar um integrante da “Nove”, uma entidade que segundo o próprio Ainbinder tem hoje apenas OITO membros. Nem a mais radical célula revolucionária situada no interior da floresta amazônica é tão diminuta. A UNE e a UBES representam milhões de estudantes. Promovem congressos, debates, passeatas. Obtiveram grandes vitórias políticas este ano, como a aprovação de 50% da verba do pré-sal para a Educação e o Estatuto do Jovem. Tem combatido com relativo sucesso pela manutenção da meia-passagem, benefício que os governos estão sempre tentando tirar dos estudantes. Enfim, a gente luta de verdade, na praça, com o povo. Não é a totalidade dos estudantes? E daí? É assim mesmo. Ingenuidade achar que, a esta altura do campeonato, teremos percentuais gigantescos de participação política entre os estudantes. Não dá para comparar o movimento estudantil de hoje com os anos 60, quando havia toda aquela atmosfera de revolução cultural, sexual, política. Hoje as coisas estão mais calmas. Além disso, a maioria dos jovens está muito empobrecida financeiramente; sua preocupação maior é como sobreviver no futuro próximo. Essa é uma de nossas frentes de luta. Geração de estágios, empregos e bolsas para os jovens poderem respirar, estudar, divertir-se.
São poucos os jovens que se envolvem no movimento estudantil? Sim, são poucos se pensarmos em termos percentuais. Mas não são OITO. São milhares, só no Rio.
Outra coisa: é natural, na minha opinião, que o jovem engajado nas lutas do movimento estudantil se alie a partidos políticos. Qual o problema? Faz parte do processo de politização. Não vivemos numa democracia representativa? Quanto ao atrelamento ao governo, a fala de Ainbinder é típica de um jovem alienado que só
Os estudantes se alinham ao governo quando acham que assim devem fazê-lo, e cobram uma contrapartida política. O governo Lula está dando essa contrapartida. Ajudou a UNE em diversas frentes, deu ganho de causa a ela para recuperar sua sede, tem conversado com as lideranças estudantis e acatado muitas de suas propostas. Enfim, os estudantes apóiam ou desapóiam quem eles quiserem, segundo suas consciências e seu bom senso. Não é o Globo que manda na opinião dos estudantes!
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