Várias lideranças ligadas aos movimentos femininos divulgaram na noite de quinta (8) uma nota de repúdio à charge do cartunista Nani que foi reproduzida no globo do jornalista Josias de Souza, do jornal Folha de São Paulo. A ilustração preconceituosa que apresenta Dilma Rousseff como uma prostituta, despertou uma chuva de críticas na internet e já foi retirada do ar pelo blogueiro da Folha.
A charge também surpreendeu porque Nani é um profissional de talento que até o momento era muito apreciado e respeitado nos círculos de esquerda. A secretária de Cultura do Rio de Janeiro e integrante do Comitê Central do PCdoB, Jandira Feghali, foi uma das que deploraram o episódio: "Lamentável que o Nani com o talento e a história que tem use a sua arte, humor gráfico, para nos entristecer”, ponderou, “pois da charge, da caricatura, do cartoon, espera-se sempre uma brincadeira, uma ironia, a hipertrofia de uma característica, mas jamais humor com tão profundo desrespeito e desqualificação de uma mulher, e de uma mulher na política com uma trajetória de luta, reforçando o preconceito contra nós e contra a política. Aliás, quando as mulheres estão na disputa, a vala comum é agredir pela moral. Josias e Nani, por favor…!"
O preconceito contra as mulheres está em sintonia com o espírito marchista da campanha tucana e das opiniões reacionárias que o candidato Serra externou recentemente, quando sabatinado pela mesma Folha de São Paulo, sobre o aborto, cuja legalização (demandada pelos movimentos feministas como uma questão de saúde pública e direito da mulher sobre o próprio corpo) segundo ele produziria uma "carnificina".
Leia abaixo a íntegra da nota de repúdio, que está aberta a novas assinaturas:
A charge do cartunista Nani reproduzida no blog do jornalista Josias de Sousa no dia 8 de julho de 2010 é absurda, indigna e ofensiva não só à dignidade da candidata Dilma Rousseff, mas a todas as mulheres brasileiras independentemente de suas escolhas político-partidárias.
Só numa mídia em que ainda predominam valores machistas é possível veicular “impunemente” uma charge tão desqualificadora das mulheres e tão discriminadora com as profissionais do sexo, as quais ainda se constituem como objeto de usufruto masculino.
Além do desrespeito e deselegância presentes na charge sobre a mulher na política, cujo alvo é uma candidata que tem uma história de luta contra o conservadorismo e as injustiças sociais, a ilustração reforça o preconceito sexista em relação às mulheres na política, desqualificando-as e fortalecendo o poder masculino.
Por onde irá se conduzir a ética dos comentaristas e chargistas políticos no vale-tudo da campanha eleitoral abrigados sob o teto da liberdade de imprensa?
Brasília, 8 de julho de 2010
Assinam esta nota:
Lourdes Bandeira – Professora Doutora da UNB
Hildete Pereira de Melo- Professora Doutora da UFF
Severine Macedo –Secretária Nacional da Juventude do PT
Liege Rocha -Secretaria Nacional da Mulher do PCdoB
Marcia Campos -Presidente da Fedim
Elza Campos -Coordenadora Nacional da UBM
Cecilia Sadenberg- Professora Doutora do UFBA
Madalena Ramirez Sapucaia- Professora da PUC/RJ
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