terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cenário para a oposição é mais árduo que em 2006

Com frequência a eleição de 2006 é tomada como parâmetro para projetar o desfecho da disputa presidencial deste ano. Além de percentuais de intenções de voto coincidentes e escândalos surgidos nos mesmos períodos e com intensidade semelhante — características comuns já extensamente citadas —, comparações minuciosas de resultados de pesquisas revelam diferenças fundamentais no comportamento dos eleitores entre esta e aquela eleição.

Por Mauro Paulino, na Folha de S.Paulo

Como mostrou a coluna de Mônica Bergamo de ontem, Lula permaneceu estável nas três pesquisas feitas após as primeiras denúncias sobre os "aloprados". Os fatos que realmente decidiram a ida para o segundo turno foram a divulgação em larga escala da foto de dinheiro vivo apreendido com petistas para, supostamente, comprar um dossiê e, principalmente, a desistência de Lula de ir ao último debate, horas antes de sua realização.

Entre os que assistiram ao debate promovido pela Rede Globo, a maioria votava em Alckmin ou Heloísa Helena na véspera do primeiro turno. Foi um erro de cálculo da campanha petista.

Muito já se disse também sobre as trajetórias opostas entre a curva ascendente de Alckmin em 2006 e a descendente de Serra atualmente. Também a aprovação recorde atribuída ao governo Lula, 30 pontos acima da obtida no mesmo momento em 2006, é citada com frequência. Além destas, há outras disparidades importantes entre as duas eleições.

A vantagem de Lula sobre a soma das intenções de voto de Alckmin e Heloísa Helena era de dez pontos logo após o surgimento dos "aloprados", muito próxima dos 12 pontos que Dilma obteve na última pesquisa. Mas nos segmentos de maior renda e escolaridade, reduto tradicional dos candidatos tucanos, os contrastes são mais visíveis.

Enquanto Lula apresentava uma desvantagem de 16 pontos entre os com renda familiar entre cinco e dez salários, duas semanas antes da eleição, hoje a vantagem é de Dilma nesse segmento, três pontos acima dos demais candidatos. Entre os de maior renda, Lula perdia por 29 pontos em 2006. Hoje, a desvantagem de Dilma nesse segmento representa cerca de metade disso. O mesmo ocorre também entre os mais escolarizados. Foram nesses segmentos que Lula mais perdeu votos na reta final daquele ano.

Levar a eleição para o segundo turno significa que a oposição terá que roubar proporcionalmente o dobro de votos entre esses eleitores do que em 2006.

O maior contraste está no Sul. Em 2006, a oposição obtinha nesse mesmo período 15 pontos de vantagem, reduzida agora a um empate nessa região. No estado de São Paulo a vantagem de 14 pontos obtida pela oposição em 2006 caiu agora para 6. No Rio, a vantagem de 3 pontos de Lula foi ampliada por Dilma para 11. E em Minas, a vantagem dos petistas subiu de 12 para 17 pontos.

Essas comparações entre pesquisas similares, feitas após denúncias de corrupção na reta final de ambas as eleições, mostram que o caminho da oposição para chegar ao segundo turno é bem mais espinhoso do que já foi em 2006.

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