sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Emir Sader: vida, (falta de) paixão e morte dos tucanos

O PSDB nasceu de um grupo de políticos do PMDB basicamente de São Paulo que, derrotados e isolados pelo quercismo, resolveram sair do partido e fundar uma outra agremiação. Era integrado basicamente por cardeais paulistas — Montoro, Covas, FHC —, mais alguns de outras regiões — como José Richa, do Paraná, Tasso Jereissatti, do Ceará.

Por Emir Sader, em seu blog

Na hora de dar um nome ao partido, vieram os impasses, até que surgiu a ideia de encampar a social-democracia, sigla vaga no Brasil, apesar de que alguns — entre eles especialmente o Montoro — se definiam como democrata cristãos. Escolheu-se o tucano como símbolo, para tentar dar-lhe uma raiz brasileira.

Era o ano de 1988, a social-democracia já estava passando por transformações que mudariam sua natureza. De partido geneticamente vinculado ao Estado de bem-estar social, começava a aderir à onda neoliberal, primeiro com Mitterrand, na França, em seguida com Felipe Gonzalez na Espanha. Quando os tucanos aderiram à social-democracia, era quando esta já havia aderido à moda neoliberal.

Na própria América Latina. Ação Democrática da Venezuela, os socialistas chilenos, o peronismo, o PRI mexicano — que pertenciam à corrente social democrata — já tinham aderido ao neoliberalismo. Foi a essa versão da social-democracia que aderiu os PSDB.

Não foi essa a única diferença dos tucanos em relação ao que tinham sido historicamente os partidos social-democratas. A social-democracia tinha sido uma vertente da esquerda, junto aos comunistas, ambos com profundas raízes sociais, em particular no movimento operário e no movimento sindical. Há ainda uma rede internacional de centrais sindicais ligadas à social-democracia.

Nada mais alheio aos tucanos. Nem o PMDB tinha presença sindical, menos ainda eles, que eram um grupo de políticos parlamentares que tinha em Mario Covas sua principal expressão. No entanto, já na eleição presidencial de 1989 aderiram a um “choque de capitalismo” de que o Brasil precisaria, como prenúncio de caminhos ideológicos que os tucanos trilhariam no futuro próximo.

A morte de Covas deixou o espaço aberto para outros lideres tucanos, FHC e Serra disputavam a preferência, diante da incompetência de outros lideres regionais, como Tasso Jereissatti, para se projetar nacionalmente. Os tucanos terminaram sendo um partido eminentemente paulista.

Quando FHC assumiu o projeto neoliberal, com o Plano Real, olhava para a França e a Espanha, suas referencias ideológicas, para acreditar que esse seria o caminho da “modernização” no Brasil. FHC se deslumbrou com a globalização — “o novo Renascimento da humanidade” — e a vitoria eleitoral de 1994 lhe confirmou que a via era abandonar o Estado desenvolvimentista pelo da estabilidade monetária e do ajuste fiscal.

Foi o auge do PSDB e o começo do seu fim. Sem lugar para políticas sociais, acreditando que o simples controle inflacionário levaria à distribuição de renda, teve um efêmero sucesso no primeiro governo FHC, mas saiu derrotado nas eleições de 2002, de 2006 e agora de 2010.

Foi uma vida breve, uma glória efêmera e uma morte prematura, para quem nasceu supostamente como social-democrata, assumiu o projeto neoliberal no Brasil e foi repudiado pelo voto popular. Nasceu do antiquercismo e termina indo ao fundo, abraçado com Quércia. Triste fim de um partido das elites do centro-sul, repudiado pelo governo mais popular que o Brasil já teve.

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