quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"A hora da virada"

Agora sob nova direção. Quem suspeitaria que a “hora da virada” prometida pela campanha do predestinado José Serra à Presidência da República, se daria sob a ousada liderança de Rubnei Quícoli? Ninguém duvide da capacidade dos tucanos de renovar sua vanguarda! A velha mídia revela agora um peculiar talento culinário. Está determinada a temperar este final de campanha. Talvez venha servir aos eleitores do Serra um prato excessivamente condimentado: algumas toneladas de tempero resultado de receptação de carga roubada, conforme sentença da 3ª. Vara Criminal da Comarca de Campinas, São Paulo.

Falar em sentença, o STF acaba de arquivar por falta de provas ante o ensurdecedor silêncio da mídia velha de guerra, o processo movido pelos tucanos contra filiados do PT na reta final da campanha de 2006. Perguntar não ofende: Qual será o processo que o STF apreciará às vésperas das eleições de 2014?

Rubnei Quícoli emergiu do anonimato para o proscênio da campanha eleitoral, na última semana, pelas mãos da velha mídia familiar (nos dois sentidos...) como um personagem multi-profissional: mais como consultor, negociador, representante empresarial, lobbysta. Menos como receptador de carga roubada, passador de cédulas falsas, escroque, detento do sistema penitenciário paulista e agora guindado à condição de fonte da mais elevada credibilidade, paladino da lisura e da indignação cívica, pela mídia velha de guerra... que não se dá ao trabalho de explicar à sua audiência como um personagem que passou dez meses preso há menos de dois anos conduz um projeto de R$ 9 bilhões. Pena para o Brasil que nem a Vale ou a Petrobrás tenham descoberto antes o talento empreendedor do Rubnei...

A emergência de personagens como o novo líder da virada na campanha tucana, não é, a rigor, inédita. Guarda íntimas semelhanças com personagens do submundo como o Toninho da Barcelona, na campanha de 2006. A tecnologia utilizada tampouco é nova. Trata-se da mesma tecnologia experimentada em 2002, no Maranhão e patenteada pelos tucanos como “tecnologia Lunus”. Nesta campanha nos é oferecida a versão “Lunus 2010”.

A elite conservadora brasileira, tendo à frente o predestinado José Serra, foi à disputa, em 2002, oferecendo à sociedade a agenda neoliberal quando a maioria dos brasileiros já havia se despedido dela. Foi derrotada pelo metalúrgico LuIa. Mas reuniu forças para impor, pelo terrorismo político exercitado ao paroxismo, algumas condições. Elas foram expressas na “Carta aos Brasileiros”. Em 2006, depois da tentativa de golpe do ano anterior, o metalúrgico e os setores sociais que lhe deram e hoje lhe dão sustentação impuseram uma nova e acachapante derrota, no segundo turno das eleições. Daquela vez, liderada pela figura inexpressiva de Geraldo Alckmin, que alguém um dia definiu como “o boticário dos filmes de Mazzaroppi”, sustentado à força e no grito pela mídia velha de guerra...

Em 2010, os tucanos nos oferecem o predestinado “José Serra, o retorno”. Não apenas do personagem. Também dos métodos. Com uma alteração: sinais de esgotamento. Dos dois. O personagem e os métodos. O que se anuncia dessa vez não é apenas a derrota eleitoral da agenda neoliberal sequer mencionada explicitamente na campanha serrista. Agora se trata da derrota política dessa agenda, como alternativa para o país. A direita restou sem agenda e sem instrumentos partidários formais, partidários para conduzir sua ação. Só lhe restou as redações da mídia velha de guerra... O que é ruim para a democracia.

O governo do Presidente Lula criou as condições para construirmos o novo ciclo numa perspectiva de recuperação do papel do Estado como indutor do processo de desenvolvimento, da ampliação das políticas públicas e da participação popular no controle dos orçamentos.

A campanha de 2010 expressa o amadurecimento de uma pauta levantada há algum tempo por setores relevantes do processo político brasileiro, à esquerda e à direita. Trata-se de uma agenda de dupla face: a reforma política e a democratização dos meios de comunicação no Brasil. O pacto político que viabilizou o êxito do governo Lula com a retomada do crescimento, combate à fome e à miséria, redução das desigualdades sociais e regionais, afirmação da soberania nacional e expressivo protagonismo do Brasil na cena mundial, isolou um segmento que, embora em declínio – em razão da perda de credibilidade e do avanço da internet – ainda detém alguma capacidade de interferir no processo de disputa dos rumos do país. Trata-se de seis ou sete famílias proprietárias ou concessionárias que enfeixam em suas mãos a produção e difusão de informações no país.

Nos últimos oito anos, esse segmento se deslocou do bloco de interesses econômicos conservadores – indústria, comércio, serviços, agro-negócio, e mesmo dos bancos – todos eles atraídos pelo pacto proposto por Lula e pelos evidentes resultados que vem alcançando. E aferrou-se a uma perspectiva de confronto ideológico descolado da dinâmica econômica e social em curso que só responde aos interesses específicos daquelas famílias. De tal modo que, como disse nos últimos dias o Presidente da República, recuperando uma formulação de Perseu Abramo, “pensam que são partidos políticos”. Em grande medida porque vieram ao longo do processo de disputa política no país, substituindo as legendas conservadoras – PSDB/DEM – como oposição ao governo que conclui o mandato em dezembro deste ano.

Os métodos dessa oposição são suficientemente conhecidos. Não deve haver, portanto, surpresa quando a mídia velha de guerra lança mão de personagens do quilate de Rubnei Quícoli para liderar a contra-ofensiva na reta final da campanha para obter, como em 2006, a chance de um segundo turno.

Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.

 

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