quinta-feira, 31 de março de 2011

Os exemplos opostos de José Alencar e Jair Bolsonaro


Em meio à comoção da morte de Zé Alencar, que muito nos ensinou sobre tolerância e capacidade de aglutinar diversos setores da sociedade em torno de objetivos maiores repugna a conduta de Jair Bolsonaro, o deputado troglodita.
O exemplo de José Alencar vive. Já o de Bolsonaro merece ser sepultado, incabível em um país como o nosso, em pleno século XXI.
 
 
Luciano Rezende *

O coração de José Alencar parou de bater. Mas o forte sentimento de amor à vida e ao país que ele despertou nos brasileiros continua a pulsar. Na contramão do exemplo de Alencar, o deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ) segue a verter sangue pela boca disseminando seu ódio contra milhões de brasileiros.

São exemplos distintos da política nacional. Enquanto Alencar ajudou a engrandecê-la, Bolsonaro persiste em aviltá-la.

A morte de Alencar, ainda que estivéssemos minimamente preparados para ela, repercute emotivamente em toda a imprensa. Emoção inversa foram as declarações racistas e homofóbicas proferidas pelo deputado Bolsonaro contra a cantora Preta Gil, em programa de televisão na noite desta segunda-feira (28), que também ganharam manchetes nos jornais.

Não interessa se Bolsonaro entendeu bem a pergunta ou confundiu “negro” com “gay”. Basta ver o histórico de intolerância do parlamentar para constatar que o mesmo é um reincidente contumaz nestes pronunciamentos odientos.

É o exemplo de amor a uma ou mais causas demonstrado por Zé Alencar que falta a muitos na política nacional. O ódio que Bolsonaro nutre por diversos segmentos de nossa sociedade segue o caminho inverso.

José Alencar permanece como um símbolo de tolerância e respeito às distintas opiniões e ideias. Mostrou a muitos militantes de esquerda, por exemplo, que não deveria ser ele, enquanto burguês, o alvo das críticas, senão uma classe social burguesa rentista e parasitária que espolia a pátria. Já Bolsonaro representa a intransigência. Instiga grupos reacionários e extremistas de direita que não é ele, um representante da moral e dos bons costumes a exceção, mas o que ele insulta como sendo a ralé da sociedade composta por prostitutas, veados, maconheiros, terroristas (comunistas) e outros termos pejorativos que o mesmo faz questão de pronunciar de forma veemente através da grande mídia.

Imagine se Bolsonaro fosse um parlamentar que apoiasse o governo Dilma. Teria o mesmo tratamento beneplácito dispensado pela mídia que o trata como folclore ou homem-bomba de seus pensamentos mais íntimos e impronunciáveis publicamente?

Uma das melhores formas de render homenagens à figura humana democrática e pacificadora que representa José Alencar, além de baixar as taxas de juros, é condenar Bolsonaro por suas recorrentes declarações preconceituosas que também enlutam a nação.

Nesse sentido, a ação enérgica da presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a deputada Manuela D`Ávila (PCdoB/RS), que anunciou providências contra os impropérios de Bolsonaro, deve ser saudada.

Importante lembrar que Alencar transitava em todos os partidos políticos e frequentemente exaltava os comunistas. O PCdoB em geral e a figura de Jô Moraes em Minas era carinhosamente enaltecida pelo estadista que sabia reconhecer os aliados. Bolsonaro trata a mais antiga agremiação política como uma organização terrorista e venera os torturadores da ditadura militar e os assassinos do Araguaia.

Além do mais, o energúmeno cultiva a polêmica rasteira para agradar seu eleitorado fascistóide. Mas homofobia, assim como o racismo, é crime e extrapola as supostas divergências da esfera moral, religiosa ou ideológica.

Em meio à comoção da morte de Zé Alencar, que muito nos ensinou sobre tolerância e capacidade de aglutinar diversos setores da sociedade em torno de objetivos maiores repugna a conduta de Jair Bolsonaro, o deputado troglodita.

O exemplo de José Alencar vive. Já o de Bolsonaro merece ser sepultado, incabível em um país como o nosso, em pleno século XXI.



* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Professor do Instituto Federal do Alagoas.

 

Nenhum comentário:

Marcadores