Numa ação que parece combinada, a mídia demo-tucana volta à carga, com artilharia pesada, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num jogo maroto, ela continua bajulando a presidente Dilma Rousseff, que de “poste” virou “estadista”, mas rosna contra o seu “padrinho” e “tutor”. Abatido um, a outra ficará mais vulnerável e entrará, logo na sequência, para a linha de tiro.
Por Altamiro Borges
Nesta nova ofensiva, como nas anteriores, coube a uma revista semanal disparar o primeiro tiro. Desta vez, a missão ficou a cargo da Época, que publicou matéria “requentada” e apimentada sobre o chamado “mensalão do PT”. O mesmo Diego Escosteguy, que se projetou com seus factóides na Veja e foi agraciado com prêmios pelo Instituto Millenium, é o autor do “reporcagem”.
Insinuações maldosas do bolsista da Millenium
Como já demonstrou Miguel do Rosário, o texto “traz aquela linguagem entre barroca e cínica que se tornou marca registrada nas reportagens sobre o mensalão. A matéria, com base no relatório da Polícia Federal enfim concluído, traz uma ou duas novidades, as quais, porém, são tão ansiosa e descaradamente aditivadas com molho velho que perdem todo o sabor. A imagem que me vem é a de uma sopa guardada há semanas na geladeira, a qual lançamos uma cenoura cortada para que pareça fresca”.
Diego Escosteguy não apresenta qualquer prova sobre a existência do “mensalão”, que teria comprado votos de parlamentares. O que o relatório da PF indica é que houve “caixa-
“Una solo voz” da mídia golpista
“Lendo a matéria até o final, o que vemos é que a PF desmente a tese do mensalão, visto que aponta apenas 28 parlamentares como receptadores de recursos de Marcos Valério. Como se pode botar um Congresso de 513 deputados ‘no bolso’ dando dinheiro a somente 28 dentre eles? Sem contar que a maioria pertencia à base governista e muitos receberam quantias irrisórias, como o professor Luizinho, que virou "mensaleiro" após um assessor sacar R$ 15 mil do valerioduto”, aponta Miguel do Rosário.
Na prática, a “reporcagem” da revista Época, assim como várias similares da Veja, não visa esclarecer o leitor. Não tem qualquer compromisso jornalístico ético. Seu objetivo é político. No momento, a matéria serve para deflagrar uma nova ofensiva contra o ex-presidente Lula, com o intento de desconstruir a sua imagem. Isto fica mais patente com a “repercussão” do texto requentado nos jornalões, que entraram em campo logo na sequência. A ofensiva é articulada – “una solo voz”, como se diz na Venezuela.
Estadão defende processo contra Lula?
Em editorial nesta terça-feira (5), intitulado “Um golpe para Lula”, o Estadão escancara a manobra. O alvo é o ex-presidente. “A Polícia Federal levou nada menos de seis anos para confirmar que o esquema petista de pagamentos ilícitos a políticos conhecido como mensalão, trazido à tona em 2005, não é uma ‘farsa’ de que fala cinicamente o ex-presidente Lula, mas um fato objetivo, documentado e que não comporta mais interpretação”. Neste caso, o convicto Estadão defende a abertura de processo contra Lula?
O jornalão da oligarquia parece defender esta hipótese. Para a decrépita famiglia Mesquita, o mensalão existiu e Lula é o culpado! “A investigação não deixa em pé nenhuma dúvida sobre a origem do dinheiro usado para comprar políticos venais e reforçar as finanças da companheirada... Claro que Lula poderá alegar que não teve nada com isso (...), mas a volta do mensalão ao noticiário é um golpe para a pretensão do ex-presidente de sair por aí desmoralizando a denúncia que marcou para sempre o seu governo”. Ao final do editorial, o jornalão ainda “aconselha” a Justiça a se pronunciar de imediato e fala até em “condenação exemplar”.
Folha aposta nos reflexos futuros
Já a Folha trilha o mesmo rumo golpista. Ela preferiu não se expor abertamente no editorial e repassou a tarefa ao seu colunista de plantão, Fernando de Barros e Silva. O texto é idêntico ao editorial do Estadão, como se fosse escrito conjuntamente na mesa de um restaurante de luxo dos Jardins. “A versão de que o mensalão havia sido uma ‘farsa’, uma obra de ficção arquitetada pela ‘imprensa golpista’, se tornou uma ladainha nas hostes petistas”. Para ele, o relatório da PF é conclusivo e condena Lula.
Mesmo reconhecendo que “não há, a rigor, nada que seja propriamente novo e impactante na peça da PF divulgada pela revista Época”, o colunista insiste em reafirmar que a imprensa estava certa nas denúncias contra o ex-presidente e que Lula se valeu do sucesso do seu segundo mandato para ofuscá-las. Ele só deixa de registrar que o ex-presidente foi reeleito em pleno tiroteio – o que confirma que a mídia golpista foi derrotada nas eleições de 2006.
Mídia armada e de prontidão
Mas pouco importa que o relatório da PF não apresente “nada de novo” ou que a mídia tenha sido derrotada nas urnas. Para o colunista da Folha, o importante são os reflexos futuros. “É difícil avaliar, por ora, quais serão as implicações legais deste relatório. Politicamente, no entanto, a PF jogou uma pá de cal nesta farsa de salão que o PT quis impingir ao país”. Como se nota, a mídia continua em prontidão, treinada e armada. Atira para matar em Lula e deu uma trégua a Dilma. Mas não será por muito tempo!
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