quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pré-candidato

Aécio "reinaugura" oposição com discurso óbvio e muita bajulação

Quase 100 dias depois de tomar posse no Senado, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) resolveu, finalmente, tentar honrar o papel que a mídia e setores da direita lhe outorgaram de "líder da oposição". Em seu primeiro pronunciamento no grande expediente do Senado, Aécio repetiu o discurso antipetista usado pela oposição na última campanha eleitoral. Fez uma tentativa de resgatar a "herança" deixada pelo governo FHC e disse que fará uma oposição firme mas não hostil. (Que meda)

De resto, repetiu o que a mídia e a direita já vinham destacando no último período. Acusou o PT de aparelhar e inchar o Estado. O mesmo que José Serra já havia dito na campanha eleitoral. Criticou a suposta "intromissão" do governo na iniciativa privada, citando nominalmente a Vale. O mesmo tem feito a mídia nas últimas semanas.

Repetindo a mesma ladainha da última campanha eleitoral, Aécio também buscou minimizar as realizações do governo Lula. Disse que os bons resultados obtidos nos últimos 8 anos só foram possíveis graças à "manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores".

O senador tucano briga com a realidade e com os números ao afirmar que o país sofre "grave risco de desindustrialização". E revela uma marota hipocrisia ao "denunciar" que a "qualidade das estradas brasileiras, por onde trafega mais da metade das cargas no país, supera apenas a da Rússia", sem lembrar que a maior parte das piores estradas do país está justamente em Minas Gerais. A mesma hipocrisia revela ao criticar a carga tributária brasileira. Novamente sem lembrar que, quando foi governador de Minas, não agiu para reduzir a carga tributária estadual.

Ao falar sobre o papel da oposição, Aécio elenca as óbvias tarefas oposicionistas: "Fiscalizar com rigor. Apontar o descumprimento de compromissos assumidos com a população. Denunciar desvios, erros e omissões. E cobrar ações que sejam realmente importantes para o país".

Fez ainda uma defesa do municipalismo, contra a concentração de poder político e econômico pela União. Citou o patético "Manifesto em Defesa da Democracia" – um texto de ataques ao presidente Lula, capitaneado por setores conservadores na campanha de 2010 –, como sendo "o mais importante documento político produzido nos últimos tempos no país".

Aécio ainda elencou algumas "bandeiras" da oposição, como a desoneração fiscal em setores estratégicos. Mas ressalvou que são também compromissos assumidos pelo atual governo.

Como proposta nova, citou apenas a "transferência gradual dos recursos e da gestão das rodovias federais para a competência dos estados" e a eventual criação do Simples Trabalhista.

Falou ainda em ética, responsabilidade e coragem para defender a velha bandeira neoliberal de diminuição do papel do Estado. Tese camuflada através de palavras como "choque e gestão" e "responsabilidade administrativa".

Por fim, voltou a dizer que a oposição que pretende fazer "não é a de uma coligação de partidos contra o Estado ou o país, mas a da lucidez da razão republicana contra os erros e omissões do poder público". "Ou o faremos ou continuaremos colecionando sonhos irrealizados", finalizou.

Apartes

Antes mesmo de ocorrer, o discurso de Aécio – potencial candidato à Presidência em 2014 – já havia sido anunciado como uma espécie de "inauguração" de uma nova fase da oposição, o "lançamento de um líder". O tucano quer se firmar como uma das principais vozes oposicionistas – depois de receber críticas de setores do PSDB sobre sua postura tímida nos dois primeiros meses de trabalho no Congresso.

A pretensão anunciada mobilizou as bancadas de todos os partidos. Mais de 30 senadores pediram apartes para comentar o discurso de Aécio.

Os governistas estavam preparados para responder no mesmo tom se o tucano passasse dos limites nos ataques ao governo. Mas como Aécio fez um discurso óbvio e pouco agressivo, os apartes, no geral, tanto de parlamentares oposicionistas quanto de governistas, primaram pela bajulação. Até mesmo o senador do PSOL, Randolfe Rodrigues (AP), derramou-se em elogios desmedidos a Aécio. Chegou a dizer que "trilharão caminhos muito parecidos". Poucos foram os senadores que contestaram o discurso do autoproclamado "líder da oposição".

Apenas os senadores petistas Lindberg Faria (RJ), Marta Suplicy (SP) e Humberto Costa (PE) contestaram trechos do pronunciamento do senador mineiro.

O senador Lindberg Faria citou a "Lei delegada" em Minas Gerais e a falta de responsabilidade fiscal do governo mineiro. Lindberg também cobrou Aécio sobre a plataforma da oposição. "No discurso do senhor faltou o discurso para o futuro", disse o senador petista.

A senadora Marta Suplicy também parabenizou o senador mineiro “pelo discurso democrático, amplo e elegante”. Mas aproveitou para comparar os índices sociais do governo Lula com o de Fernando Henrique Cardoso e criticou o processo de privatização do governo do PSDB. "Foi o governo Lula que resgatou a Petrobras e permitiu a descoberta de petróleo na camada pré-sal", disse a senadora. Marta Suplicy ainda destacou que a presidente Dilma começa a gestão com 73% de aprovação popular.

Humberto Costa (PE), por sua vez, respondeu à fala de Aécio sobre o PT. Disse que antes de acusar o PT de menosprezar os interesses da nação, é preciso identificar que tipo de nação o PT defende e que tipo de nação o PSDB defende. Costa elogiou Aécio como "maior líder da oposição" no país, mas o tratou como “desinformado” sobre os avanços do governo petista. "Creio que vossa excelência dá uma grande contribuição ao debate, mas precisa se instruir mais um pouco", disparou o petista. O líder petista defendeu também o governo Lula e o crescimento da economia. "Quem implantou no país um programa de infraestrutura, se não o presidente Lula? E este projeto está transformando o Brasil”, argumentou Humberto.

Após o discurso, Humberto conversou com jornalistas e manteve o tom. Segundo ele, até agora a oposição demonstrou que não tem propostas para apresentar à sociedade brasileira. Para ele, o senador tucano não trouxe nenhuma novidade nem mesmo em relação às concessões de rodovias. Ele destacou que, pela primeira vez, foram feitos elogios ao governo FHC. "Se o objetivo é promover um candidato quatro anos antes das eleições, ele irá se perder pelo tempo", acrescentou.

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