segunda-feira, 4 de julho de 2011

Os estudantes entre a cruz e o crucifixo


Carlos Pompe *

Projeto de lei nº 256, apresentado no dia 5 de abril pelo deputado Orlando Morando (PSDB) na Assembléia Legislativa de São Paulo, quer tornar obrigatória a exibição de crucifixo nas escolas públicas. Mais uma investida religiosa nestes tempos de renascimento obscurantista.



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O tucano pretende decretar: “Artigo 1º - Os estabelecimentos de ensino do Estado de São Paulo deverão fixar crucifixo no interior de suas instalações.


Parágrafo único – o crucifixo a que se refere o caput deste artigo deverá ser mantido em local e em tamanho de fácil visualização, em área de circulação.

Artigo 2º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta das dotações orçamentárias próprias consignadas no orçamento vigente”.

Apesar da evidência de impor uma seita, o cristianismo, aos estudantes paulistas, o deputado diz que não presente contrapor-se “ao estado laico”. Considera, ó bondade!, que a liberdade religiosa “deve pautar as normas legais das sociedades modernas, inclusive com tolerância até mesmo” (uau!) “do ateísmo”, mas não quer “permitir que o sentimento de minorias imponha normas a serem seguidas pela grande maioria das pessoas”.

Dez dias depois, o deputado Gilmaci Santos, do PRC, propôs um substitutivo ao projeto de lei, trocando seis por meia dúzia: sai a palavra crucifixo, entra a palavra cruz. Na sua compreensão, “a cruz denota um signo de relação com Deus de maneira a não fazer distinção entre as religiões” (que o digam os judeus com sua Estrela de Davi) “nem ferir a liberdade religiosa do cidadão”, enquanto “o crucifixo é uma marca de uma das religiões presentes em território nacional — o catolicismo”. Aliás, a deputada carioca Myrian Rios (PDT), católica da corrente Canção Nova, também trata dessa distinção entre cruz e crucifixo. Diz ela: “se a cruz é o símbolo perfeito do problema da dor, o Crucifixo então é a sua solução. A diferença entre a cruz e o crucifixo é Cristo”.

Então, tá. Fica combinado: a maioria vai impor normas e cultos que devem ser seguidos por todas as pessoas. A Europa e suas colônias já foram assim, na Idade Média, quando, em nome da “maioria das pessoas” aduladas pelo deputado, judeus e pagãos eram queimados em praça pública, em cerimônias comandadas pelo clero com o crucifixo, ou a cruz, em punho.

O avanço do obscurantismo religioso nas escolas tem defensores em todos os parlamentos brasileiros. É uma realidade ameaçadora. Como alerta o professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e filósofo Paulo Ghiraldelli Jr: “Estamos dando diplomas de professores, na universidade pública, para pessoas que não pensam de maneira racional. Elas são cativas dessas igrejas. Logo teremos uma mentalidade mística em cargos importantes da República. Gente incapaz de entender como funciona mecanismos de inflação ou como que é possível evitar a dengue. Será difícil fazer do país uma grande nação com esse tipo de mão de obra, completamente imbecilizada. Estamos confundindo liberdade religiosa com condescendência à burrice. Temo que paguemos todos, de modo drástico, por esse nosso descuido. Esse descuido de nossas universidades para com a evolução da barbárie embaixo de nossos narizes”.

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