Segundo avaliação dos parlamentares membros da CPMI do Cachoeira, o depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques de Souza à CPI do Cachoeira, na noite desta terça-feira (8), não revelou dados novos em relação aos já divulgados pela imprensa, mas confirmou o envolvimento de parlamentares com a organização criminosa comandada pelo contraventor.
A avaliação foi feita por senadores e deputados que participaram da reunião secreta em que o delegado, responsável pela Operação Vegas, foi ouvido durante quase sete horas. “Estou convencido: o senador Demóstenes era o braço político da organização, um dos principais braços políticos da organização”, afirmou Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), ao sair da sala, durante a audiência.
Para o senador, não há “possibilidade nenhuma” de que o Senado mantenha Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) no cargo, depois do que foi revelado pelas operações da Polícia Federal. Pela manhã, o Conselho de Ética da Casa decidiu abrir processo de cassação contra Demóstenes, e o presidente do colegiado, senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) disse que uma decisão será tomada antes do recesso parlamentar, que começa em 18 de julho.
De acordo com os relatos de grande parte dos parlamentares que participaram da audiência, o depoimento do delegado também confirmou o envolvimento dos deputados Sandes Júnior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) no esquema de Cachoeira, além da ligação entre o contraventor e a construtora Delta. A corrupção de agentes do governo foi outro ponto de destaque do depoimento.
“O resultado mais importante é que o delegado nos trouxe evidências claras dessa organização criminosa, seus tentáculos nas mais diversas esferas de governo, seja em governos municipais e estaduais, seja no governo federal “, avaliou o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse esperar que o relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, acabe com o segredo de justiça das investigações. Apesar disso, afirmou que a CPI não fará um pedido formal nesse sentido, conforme desejam partidos como o PSDB.
“Eu já conversei com o ministro Lewandowski outras vezes por telefone e vamos continuar conversando sobre isso. No momento certo, a justiça determinará ou não o levantamento do sigilo”, explicou Vital do Rêgo.
Procurador-geral
Ao longo da audiência, os parlamentares evitaram lançar suspeitas sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em razão da falta de continuidade da Operação Vegas, interrompida por envolver acusados com prerrogativa de foro. Houve, porém, cobranças de explicações da Procuradoria-Geral da República (PGR).
A Operação Vegas foi iniciada em 2008 e, em setembro 2009, foi enviada à PGR em razão do foro por prerrogativa de função de pessoas que apareceram nas investigações. Um mês depois, a subprocuradora da República Cláudia Sampaio, esposa de Gurgel, teria respondido à Polícia Federal que não havia elementos suficientes para denunciar os envolvidos com foro privilegiado.
Para o senador Pedro Taques (PDT-MT), o fato não representa necessariamente suspeição do procurador-geral, mas é preciso esclarecer o motivo da falta de continuidade das investigações.
“Eu defendo que esta pergunta seja respondida: por que ficou parado? Pode ser por escrito ou ele [Gurgel] pode vir e responder isso”, sugeriu o senador, que informou a possibilidade de apresentação de um requerimento para esse fim pelo senador Fernando Collor (PTB-AL).
Segundo o relator Odair Cunha, o tema merece reflexão, e uma decisão sobre a convocação de Gurgel pode ser tomada na próxima reunião administrativa da CPI, marcada para 17 de maio.
Agência Senado
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