Semana passada foi a vez dos índios xavante de aldeia próxima a São Félix do Araguaia (MT) serem atingidos por agrotóxicos borrifados por aviões agrícolas. O veneno vem sendo jogado por fazendeiros que ocupam terras indígenas e descumprem decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para que saiam dali.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informa que a Força Nacional de Segurança está na região desde meados de dezembro, para fazer cumprir a decisão judicial. O prazo dado pelo STF a fazendeiros, posseiros e comerciantes que ocupam a área era dia 16 de dezembro.
A denúncia, feita por lideranças indígenas, encontrou eco em parte da mídia. No entanto, a prática é comum há muitos anos, especialmente na região amazônica, onde os pequenos aviões borrifadores, conhecidos como “moscas assassinas”, são presenças comuns sobre áreas indígenas.
Há pouco mais de um ano, o Ibama apreendeu cerca de 4 toneladas de agrotóxicos na fronteira de Rondônia com o Amazonas. A maior parte da carga era do reagente 2,4D, que vinha sendo usado para desfolhar floresta, antes do desmate completo.
O mais grave é que este reagente é um dos dois principais componentes do Agente Laranja, usado pelas tropas dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, na década de 1960. Vários outros venenos que têm uso proibido nos EUA e Europa são usados no Brasil livremente.
E muitos casos, substâncias venenosas são despejadas diretamente em córregos e rios para atingir comunidades, prejudicando a pesca e o uso da água para outros fins. São incontáveis os registros de mortes já em poder de órgãos governamentais. Mas são raras as ações punitivas por parte da justiça.
No caso da semana passada, que atingiu a aldeia xavante de Marãiwatsédé, não se sabe ainda qual o veneno jogado sobre a comunidade indígena. Mas o fato foi comunicado ao Ibama, que deverá investigar e passar o assunto para a esfera policial.
Quase toda a área em questão foi coupada na década de 1960 pela fazenda Suiá-Missu, de um conglomerado financeiro, para a criação de gado. O projeto foi aprovado pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), criada pelo governo militar para financiar a ocupação da região.
De
Mais recentemente, a fazenda foi dividida e repassada a vários grupos pecuários e, uma parte, a posseiros retirados de outras áreas ocupadas. Mas a Agip devolveu grande parte da Suiá ao governo brasileiro, por pressão da Conferência Mundial do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, a Rio-92. Foi então recriada a reserva indígena.
As terras estão, em verdade, no município de Alto Boa Vista (
Na área surgiu, com incentivo dos grandes fazendeiros, um aglomerado urbano, denominado Posto do Mato, que hoje é distrito de Boa Vista. Pela decisão judicial, também essa comunidade já deveria ter deixado a área, assim como os proprietários rurais. O que se vê, porém, é que o processo segue lento, quase parando.
O Incra e a Funai informam que perto de 20 mil hectares próximos à aldeia indígena já teriam sido evacuados. Contudo, a informação parece não bater com os relatos que dão conta de aviões borrifando agrotóxico não só em lavouras das fazendas, mas sobre a própria aldeia de Marãiwatsédé, na semana passada.
Resta esperar que a prepotência dos fazendeiros e agregados seja punida pelo STF.
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
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