segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

JEITO ESTRANHO DO PFL GOVERNAR

Esta semana, o governo do Distrito Federal começa a substituir os pardais pelas barreiras eletrônicas, cumprindo compromisso de campanha de José Arruda de olho nos votos daqueles que pagam multas. A maioria dos especialistas aposta que essa mudança significará a morte das faixas de pedestre, a mais bem sucedida inovação na política de trânsito de Brasília, com mais de dez anos de serviços prestados.



A alegação do governador para adotar a medida é que os pardais são instrumentos de repressão, responsáveis por uma arrecadação de R$ 77 milhões em multas no ano passado, enquanto a barreira eletrônica tem um caráter educativo.



Os técnicos defensores do atual sistema contra-argumentam que só os pardais combinam com a faixa de pedestre porque reduzem a velocidade de maneira uniforme em toda a cidade. A barreira representa uma interrupção brusca da velocidade em alguns pontos.



Segundo Luís Miúra, diretor do Detran durante o governo Cristovam Buarque, responsável pela adoção da faixa de pedestre, esta não combina com a barreira, uma vez que a principal conseqüência do fim dos pardais será o aumento da velocidade média, impedindo que o motorista freie com segurança quando surge a faixa.



O que Miúra diz parece óbvio, mas convém discutir outros aspectos da decisão:



1) por que ela não foi precedida de debate? Além dessa lorota da vantagem educativa da barreira eletrônica que outro forte argumento a favor seus defensores têm para apresentar?



2) vale à pena gastar dinheiro em equipamentos, planejamento, pessoal e marketing para mudar um mecanismo que está dando certo? Segundo a repórter Helena Mader, do Correio Braziliense, os pardais pouparam 2 mil vidas em 12 anos de funcionamento. Se daqui a oito anos o sucessor de Paulo Octavio, vice de Arruda e aspirante a candidato em 2010, convencer-se de que as barreiras são um blefe, começará tudo de novo? Já é tempo de os novos governantes não terem medo de conservar o que está funcionando, como fez Lula em relação ao Plano Real de Fernando Henrique.



3) Pela primeira vez na recente história brasileira um governante se preocupa com o caráter prioritário da educação em detrimento da arrecadação. O presidente Lula, por exemplo, abriu mão da Reforma Tributária para não perder arrecadação e reduziu os gastos com educação convencido de que essa não é uma preocupação que mereça urgência.



4) A faixa de pedestre é a política pública mais elogiada que surgiu no país nos últimos tempos. Foi saudada com inúmeros artigos a favor pelos jornalistas mais importantes do país. Estariam todos equivocados?



5) O que é bom a gente acaba, o que é ruim a gente conserva, governador? Por que tanta pressa? Para transformar a antipatia inicial pelo pardal em defesa intransigente da faixa de pedestre foram necessários anos de campanha educativa da mídia, inteiramente grátis, principalmente do Correio Braziliense e da Rede Globo. Faz sentido jogar tudo isso no lixo dizendo aos cidadãos “desculpem, estava tudo errado”?

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