Apoiador da gestão Cesar Maia no Rio de Janeiro, o vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, filiado ao DEM (ex-PFL), mesmo partido de Maia, entregou-se ontem (26) à polícia. Ele teve a prisão decretada na semana passada junto com dois policiais civis, que segundo a denúncia do Ministério Público, seriam responsáveis pela morte de um inspetor de polícia do Rio, em fevereiro de 2007, por causa de uma disputa entre milícias.
O vereador é suspeito de ser o mandante do assassinato do inspetor da Polícia Civil Felix dos Santos Tostes, quando ele saía de um prédio no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio.
Nadinho chegou ao Fórum às 16h40, com o advogado Édson Fontes. ''Sou inocente. Estou à disposição da Justiça", disse o vereador, garantindo que só não se entregou antes por causa de sua família. "Tinha que confortá-los. Fiz questão de me apresentar ao juiz porque foi ele que decretou a prisão.''
Nos cinco dias em que esteve foragido da Justiça, o político teria recebido proteção de policiais ligados à milícia que atua na Favela Rio das Pedras, reduto eleitoral do vereador, segundo informações da Subsecretaria de Inteligência.
O juiz Sidnei Rosa não aceitou revogar a prisão preventiva do vereador. Diante da decisão do juiz, Nadinho foi levado para a Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) e de lá encaminhado para a carceragem da Polinter, em Campo Grande.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, o vereador planejou a execução de Félix para garantir o domínio político na comunidade de Rio das Pedras. O inspetor, que ocupou um cargo no gabinete do ex-chefe de Polícia Civil Ricardo Halack, planejava disputar uma vaga na Câmara de Vereadores, colocando em risco a reeleição de Nadinho.
O vereador teve mandado de prisão expedido na última quinta-feira. Além dele, também estão com mandados de prisão os policiais civis Raphael Moreira Dias (que também está foragido) e André Luiz Malvar (que já está preso por outros dois homicídios, na Região dos Lagos). André é genro do vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB), cujo reduto eleitoral fica na Zona Oeste, assim como o de Nadinho.
Maia: fato jurídico
No mesmo dia em que a prisão de Nadinho foi decretada, o prefeito Cesar Maia divulgava pela internet, através do que ele chama de ''ex-blog'', uma série de denúncias sobre a atuação da máfia chinesa no Rio. Muitos ficaram surpresos com o teor das denúncias e elogiaram o ''jornalismo investigativo'' de Maia. Mas o prefeito blogueiro, tão ágil em farejar maracutaias alheias, foi incapaz de enxergar a máfia que participava --e quem sabe ainda participa-- de sua própria base de sustentação na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Ontem (26), o prefeito afirmou que seu partido, o DEM, formará grupo de trabalho para acompanhar o caso do parlamentar. A comissão terá a função de buscar informações junto à Secretaria de Segurança, Ministério Público e Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sobre o político.
''Os passos formais devem ser dados com cuidado para que não haja erro de direito em nossa ação e, com isso, reversão por questões legais. O fato jurídico deve vir antes do fato político'', disse o prefeito, por e-mail.
Suplente
Como quem trata de um afastamento qualquer, o líder da bancada do Partido dos Democratas da Câmara Municipal do Rio, vereador Paulo Cerri, entregou nesta terça feira (27) à Presidência da Casa, ofício solicitando a convocação imediata do primeiro suplente eleito pela legenda partidária, para ocupar o lugar do vereador Nadinho que, segundo notícia do site da Câmara, ''se encontra afastado momentaneamente do trabalho legislativo da Casa''.
Em discurso proferido no plenário, Paulo Cerri esclareceu aos demais vereadores que tal pedido se fez necessário por que a bancada do partido ficará penalizada com a perda de um dos seus membros, dificultando o processo de votação da bancada, de matérias importantes, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2008. O parlamentar disse ainda que na situação de retorno futuro do vereador Nadinho, o primeiro suplente retornará a sua posição.
Em resposta, o presidente Aloísio Freitas (DEM) afirmou que de acordo com o Regimento Interno da Câmara, o vereador Nadinho de Rio das Pedras poderá solicitar licença de 30 a 120 dias. A solicitação do Partido dos Democratas será encaminhada à procuradoria geral da Casa que poderá deliberar sobre o assunto.
Tudo tratado com a mais completa naturalidade. Imaginem se o vereador preso fosse do PT ou de outro partido de esquerda. Certamente, o dedo acusador de Maia e de seus correligionários do DEM estariam sendo agitados com todo furor.
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