Publicado: 15/02/2008 - 14:08
Por: CUT <mailto:imprensa@cut.org.br>
O portal Terra furou toda a grande mídia ao divulgar com exclusividade na manhã de quinta-feira, 14, um fato gravíssimo que chegou ao conhecimento da Presidência da Petrobrás no dia 01 de fevereiro. Notebooks e HDs que continham informações confidenciais da estatal sobre dados geológicos das bacias brasileiras, inclusive a mega província petrolífera de Tupi, foram furtados de um contêiner que estava sendo transportado pela multinacional norte-americana Halliburton de uma plataforma de pesquisa na Bacia de Campos para a Superintendência da Petrobrás em Macaé. A gravidade do fato vazado para o portal Terra pautou a mídia nacional e internacional, parlamentares, governo e a sociedade de uma forma geral. Todos envolvidos numa espécie de thriller policial, tendo como pano de fundo a hipótese investigada pela polícia federal de espionagem industrial.
Um crime anunciado
De fato, o "roubo" de informações estratégicas para o Brasil, com dados geológicos das bacias do país pesquisados pela Petrobrás, tem todas as características de um crime premeditado. Mais ainda: de um crime anunciado. O que a mídia, no entanto, não tem levado em consideração é que a desregulamentação da indústria de petróleo realizada por FHC, o violento processo de terceirização das atividades da Petrobrás e a relação perniciosa entre ex-executivos da estatal e os grupos privados do setor são peças fundamentais deste quebra-cabeça.
A FUP e a CUT sempre denunciaram o excessivo nível de terceirização na Petrobrás. Em março de 2004, durante um seminário conjunto da FUP com a empresa, onde se discutiu a necessidade de primeirização de várias atividades, um gerente da companhia foi taxativo: "Terceirizamos até o que não devíamos". Além da precariedade das condições de trabalho e segurança, a terceirização na Petrobrás parece que fugiu ao controle da própria empresa. Ao ponto de diferentes agentes externos terem livre acesso a informações e equipamentos estratégicos da companhia, expondo a vulnerabilidade em que a Petrobrás se encontra.
Soma-se a esta questão, o fato do furto de dados confidenciais e estratégicos da Petrobrás ter ocorrido "coincidentemente" às vésperas de uma nova rodada de licitação de áreas de exploração de petróleo e gás que a ANP pretende dar encaminhamento ao reeditar a 8ª Rodada. Estamos tratando de um caso de segurança nacional, que pode impor sérios prejuízos ao país, já que as informações contidas nos HDs e notebooks furtados dizem respeito a muitas das áreas que serão licitadas pela ANP, algumas delas adjacentes à província petrolífera no pré-sal, onde estão localizados os gigantescos campos de Tupi e Júpiter. Portanto, é imperativo a suspensão imediata da 8ª Rodada.
Outro fato que exige atenção da Petrobrás e do governo é a exposição da empresa diante de ex-executivos de alto escalão que, mais poderosos do que HDs e notebooks, centralizaram durante décadas informações estratégicas e confidenciais da companhia. Nos últimos anos, a mídia tem alardeado o que chama de "fuga de cérebros", ao tratar de forma enviezada a mudança destes executivos para multinacionais de petróleo e empresas de energia. Em troca de milionários salários e bônus, eles levaram consigo não só o conhecimento técnico adquirido na Petrobrás, mas, principalmente, os dados preciosos da companhia, que são estratégicos para o país. Portanto, neste momento em que se discute uma questão de segurança nacional, que envolve diretamente a Petrobrás, é fundamental levar em conta a necessidade de se buscar mecanismos que reduzam a vulnerabilidade da empresa em relação a seus ex-executivos.
Reação urgente
A FUP espera que esse caso gravíssimo, que voltamos a ressaltar, diz respeito à segurança nacional, seja rapidamente elucidado e que a Halliburton, empresa que estava responsável pelo transporte dos dados confidenciais da Petrobrás, assuma a sua responsabilidade no fato. Não podemos esquecer que a multinacional norte-americana já foi comandada pelo vice-presidente dos Estados Unidos e que atuou fortemente nos bastidores da invasão do Iraque, fazendo fortunas através de contratos de logística bilionários com o Pentágono.
É imperativo ainda que a Petrobrás crie mecanismos mais rígidos de controle de informações sigilosas e estratégicas, principalmente junto às empresas prestadoras de serviço. A Federação também intensificará sua luta pela suspensão imediata da 8ª Rodada de Licitação da ANP, assim como o debate em torno do processo de terceirização na Petrobrás.
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