quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ainda bem que não somos oposição

por Luciano Siqueira*

Esse título não quer sugerir que ser oposição é necessariamente ruim. Depende. Pode ser muito honroso e enriquecedor, além de política e historicamente necessário - um dever, portanto.

Fomos de oposição ao regime militar e aos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso, e desse modo contribuímos, ao lado de milhões de brasileiros, para o restabelecimento das liberdades democráticas e para a sucessão de conquistas que redundaram na assunção de Lula à presidência de República.

É bom ser oposição, sim, quando se luta contra o que está errado alevantando bandeiras justas. Mas é péssimo quando não se tem bandeiras. E esse é o problema da oposição ao governo Lula. Tanto o bloco à direita, liderado pelo PSDB e pelo DEM; como à "esquerda", feita por grupos como PSOL e PSTU. Pois, convenhamos, "dossiê" e "cartão corporativo" estão muito longe de significar bandeiras de luta.

Mas esses dois temas foram convertidos em bandeiras pelos dois extremos aparentemente opostos, porém unidos no interesse comum de torpedearem o governo no Senado e na Câmara, onde combinam obstrução da pauta com exibicionismo televisivo. É o campo que lhes resta, pois pobres em idéias alternativas ao novo rumo que o Brasil, a duras penas, vem trilhando, carecem de autoridade e de credibilidade para arregimentarem povo e travarem a batalha nas ruas.
Agora mesmo o Banco Central, com respaldo da grande mídia conservadora, ensaia a elevação da taxa de juros, medida que, associada a cortes significativos no Orçamento Geral da União, produziria, sem dúvida, um freio no crescimento da economia. A justificativa é a contenção de uma suposta pressão inflacionária. Mas a oposição faz de conta que passa ao largo do assunto, com o qual está, obviamente, comprometida até a goela. Concentra sua agitação nas CPIs. Puro diversionismo para enganar os bobos.

Daí porque de nossa parte, dos que hoje representam os setores populares na ampla coalizão governista e dos que tomam parte no movimento social, cabe esclarecer - como bem assinala Renato Rabelo - que os propósitos do Banco Central, no caso, refletem a luta entre dois caminhos no plano econômico - o desenvolvimento robusto, com crédito amplamente acessível e distribuição de renda versus o crescimento econômico contido, sustentado por juros altos permanentes, em benefício dos rentistas e especuladores.

Aí, sim. Deixar quem quiser bater boca sobre cartões e dossiês falando sozinho e mobilizar o povo em defesa do desenvolvimento do país.

*Luciano Siqueira, Médico

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