"É uma emoção muito grande estar ao lado dos meus filhos. Eu não esperava nem tão cedo", disse, emocionado. "Todo mundo me ajudou. Eu queria que todos vocês do Cotel (Centro de Triagem dos detentos de Recife) voltassem para suas casas", acrescentou.
O flanelinha disse ter ficado preso em uma cela com dez homens, que, conhecendo o caso, ofereceram para ele cama e roupas. A família também foi surpreendida nesses seis dias por inúmeras doações de alimentos, roupas, fraldas e eletrodomésticos, entre outros objetos.
Um dia antes de ser solto, Wandevergue sonhou com a liberdade. "Sonhei que uma águia branca me pegava e me deixava do outro lado do muro."
Disse que estava arrependido do que fez. Garantiu que, ao chegar em casa, iria pedir perdão aos filhos. O Jornal do Commercio, do Recife, entrevistou o desempregado, que ocupa seu tempo como flanelinha nas ruas da capital pernambucana.
Leia abaixo a entrevista, publicada na edição desta sexta-feira do Jornal do Comércio.
JC - O que passou pela sua cabeça antes de entrar naquele supermercado?
Wandevergue Paiva - Passou pela minha cabeça que minhas crianças estavam sempre com fome em casa. Eu estava agoniado, aperreado. Não podia chegar em casa com as mão vazias. Estava sem trabalho, sem nada. Precisava fazer alguma coisa.
JC - Mas você entrou no supermercado pensando em roubar?
Wandevergue - Não. Eu não tinha pensamento para fazer nada disso. Entrei para pedir alguma coisa. Pedi na frente do supermercado, mas ninguém me deu nada. Tinha bebido, aí decidi fazer isso. Errei. Sei que o que fiz estava errado, mas fiz no impulso.
JC - Você se arrepende do que fez?
Wandevergue - Me arrependo muito. Mas na hora a pessoa não pensa. Quem tem filho sente. Sei que errei, mas o erro da fome é maior. Sei que Jesus viu na hora que eu ia fazer aquilo. Mas era para comida.
JC - O que você ia fazer com os dois potes de queijo?
Wandevergue - Eu ia vender. Ia oferecer paras as pessoas. Não sabia nem o valor. Ia vender por qualquer preço. Queria qualquer coisa para comprar comida para os meus filhos.
JC - Muitas pessoas fizeram doações para você e sua família...
Wandevergue - Eu só tenho a agradecer a essas pessoas. Que Deus ilumine todas essas pessoas.
JC - Como foram esses dias dentro do presídio?
Wandevergue - O pessoal me tratou muito bem. Sabiam o que tinha acontecido comigo. Fiquei em uma cela com mais uns dez presos. Eles me deram colchão para eu dormir e até roupa. Agradeci muito a todos eles. Me ajudaram muito lá dentro.
JC - E agora que você está livre de novo, o que pretende fazer?
Wandevergue - Eu quero trabalhar. Preciso que alguém me dê uma força, me dê um emprego, uma carroça, qualquer coisa para eu negociar.
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