quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

RUI MARTINS

AFINAL, O QUE QUER BERLUSCONI?



Berna (Suiça) - Afinal o que quer o governo italiano? Provocar um crise política ou institucional no Brasil? Qual é a jogada nessa insistência de embaixador, presidente italiano, chanceler italiano, presidente da Câmara italiana junto ao nosso governo para se anular o refúgio concedido a Cesare Battisti?

Que vantagem a Itália leva nisso ? O embaixador italiano no Brasil, Michele Valensise, que não deve ser tonto e que não foi recebido a bala no encontro com o ministro do STF Gilmar Mendes, sabe muito bem que qualquer revisão da decisão tomada pelo nosso ministro Tarso Genro provocaria uma crise política. O mínimo, o mínimo seria uma demissão ou renúncia do ministro Tarso Genro, um rebuliço dentro do PT e o presidente Lula desmoralizado até o fim do mandato.

Agora vamos perguntar ao representante do Silvio Berlusconi no Brasil se é isso que ele quer? E, no caso afirmativo, qual a parte que a Itália leva nisso? qual é a carta que o embaixador tem escondida na manga e com quem está tentando trapacear? Sim, porque se o governo italiano quer desmoralizar um ministro e o presidente brasileiros é porque tem algum apoio (de quem?) e porque leva alguma vantagem (qual?) que não só a de liquidar o Cesare Battisti.

Por que a Itália quer desencadear uma crise institucional no Brasil? O governo italiano espera poder influir no STF para se encontrar uma maneira de anular a decisão do executivo, no caso do ministro Tarso Genro, e provocar uma votação dos ministros do STF favorável à extradição. Ora, o governo italiano sabe muito bem que isso provocaria uma crise institucional no Brasil, do tipo quem é que manda, quem é que decide. E o resultado seria o mesmo, cai o ministro e se o presidente recúa, se desmoraliza.

Vocês não acham que a Itália está exagerando e metendo a colher na nossa soberania? Desse jeito, seu Berlusconi, até quem era contra o refúgio ao Battisti vai acabar ficando contra essa manobra do governo italiano, porque agora já não é mais questão de extradição para o Cesare Battisti é de brio brasileiro e do respeito à nossa soberania. Pode ter muito entreguista e vendido no Brasil, mas o povo usa camisa verde-amarela e exige respeito.

Vamos repetir para ver se o governo italiano entende - quem decide extradição no Brasil é o governo brasileiro. Tomada a decisão, acabou, não tem mais conversa, se não é interferência no que é da nossa conta.

Ou o governo de Berlusconi, que criou uma lei impedindo processo para o premiê, botou na cabeça que vai derrubar nosso ministro da Justiça, dobrar o STF e desmoralizar o Lula? Pera aí, nós não somos a Abissínia. Vamos acabar com essa palhaçada? Tem deputado italiano querendo fazer greve de fome? Tem italianos querendo protestar diante da embaixada e consulados brasileiros na Itália? Bom proveito, lá na Itália façam o que quiserem, mas vamos acabar com essa de mandar carta para o presidente Lula, recados para ministros, telefonemas para deputados, sem respeito à nossa soberania.

O presidente Lula nem devia ter aberto a carta, devia ter devolvido, mas como não sabia do que se tratava, abriu e viu a afronta do presidente italiano que, de maneira indireta, pedia a cabeça do ministro da Justiça. Eu amassava e jogava a carta no lixo, para não dizer outra coisa, mas como em diplomacia não se pode fazer isso, só mesmo o alagoano Floriano, a resposta poderia ser – “não é da conta de vossa excelência” ou como dizem os franceses para quem se mete onde não é chamado “quelqu´un vous a sonné ?”

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