Os dados do Ibope divulgados neste sábado (5) fecham a bateria das pesquisas pré-campanha eleitoral apontando um empate: Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) aparecem com 37% cravados – por coincidência, o mesmíssimo número apurado 10 dias antes pelo Datafolha. Porém um pente-fino no conjunto das pesquisas, e na do próprio Ibope, mostra que os dois não estão tão empatados assim. Há uma favorita.
Por Bernardo Joffily
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Observe o gráfico acima. Ele mostra a intenção de voto nos dois candidatos presidenciais favoritos, conforme as 18 últimas pesquisas estimuladas dos quatro principais institutos (Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi). Os dados estão organizados conforme a barra do tempo, abaixo, a contar do primeiro dia em que foram coletados (algumas pesquisas coletaram entrevistas durante até cinco dias, outras em apenas dois), para mostrar como evoluiram no tempo.
O olhar de um politicólogo islandês
Não se preocupe muito com os números e os nomes dos institutos (no pé deste artigo o internauta mais minucioso achará uma tabela com todos eles). Mas retenha a tendência geral.
Imagine agora um politicólogo, digamos, islandês, ou listenstainiano, que ao passar as férias no Brasil se depare com estes dados. Que previsão ele poderia fazer sobre o resultado de 3 de outubro?
Pesquisas vêm e vão. A campanha propriamente dita só terá início em 6 de julho, com o início oficial, e em 17 de agosto, com o programa eleitoral na TV, este grande palanque eletrônico que será o principal ponto de contato de milhões de eleitores com as candidaturas, os candidatos e suas plataformas. Esta eleição se anuncia altamente disputada. A ala midiática do bloco oposicionista ainda pode aprontar poucas e boas nos quase quatro meses até a eleição – basta ver o denodado esforço que está sendo feito com o dossiê que não existe.
Visto isso, o gráfico mostra uma tendência estável. As discrepâncias são relativamente pequenas – as notas mais dissonantes, dadas pelo Datafolha em março-abril, não chegam a turvar o quadro de conjunto.
Estadão chega a outra conclusão
O jornalista José Roberto de Toledo, do Estado de S. Paulo, chegou a um gráfico diferente e a uma conclusão oposta manuseando os mesmos dados. Para ele, até 14 de maio, "o que o tucano perdia, a petista ganhava" e " gráfico desenhou um alicate. Mas desde que as hastes da ferramenta se encontraram não houve sinais de que a pré-candidata do PT tenha continuado cooptando eleitores do rival do PSDB" (veja mais).
O que me parece ser um erro de método cometido por Toledo é usar a média móvel semanal das pesquisas, e não a curva de cada instituto, como fiz no gráfico acima. A média móvel engana porque a curva de um instituto se embaralha com a do outro. Concretamente, a "estabilidade" nas duas últimas semanas deve-se ao fato de só terem ocorrido duas pesquisas (Datafolha e Ibope), ambas mostrando 37% a 37%. Mas isso oculta outro fato: que no Datafolha Dilma cobriu uma distância de 12 pontos sobre seu concorrente, e no Ibope de oito pontos.
Vista no conjunto, o que indica a sequência de pesquisas encerrada pelo Ibope? Dilma Rousseff, a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a favorita nesta eleição. O tucano José Serra, do bloco demotucanomidiático é o mais provável perdedor. E a senadora Marina Silva (PV), que ao longo do ano se manteve estável, numa média um pouco abaixo dos 10%, pode forçar um segundo turno entre os dois primeiros, ainda que a maior probabilidade, pelos dados atuais, seja de decisão no primeiro turno.
Para além dos 37% a 37%, a própria pesquisa Ibope traz dados que confirmam o favoritismo de Dilma. Vejamos alguns.
Voto espontâneo: 19% a 15%
Na pesquisa espontânea (em que o entrevistador não apresenta uma lista prefixada de alternativas), Dilma tem 19%, quatro pontos acima do resultado de abril, e Serra 15%, um ponto a mais.
O voto espontâneo em Dilma se concentra no eleitorado masculino (24%), nas faixas de
Porém 12% dos entrevistados responderam ao Ibope que votam em Lula, número que em abril chegava a 16%. É razoável supor que estes quatro pontos correspondem, grosso modo, aos que Dilma conquistou entre as duas rodadas do Ibope. E faz sentido prever que os 12% restantes terão o mesmo destino. Serra, na melhor das hipóteses (embora haja controvérsias), herdaria os votos espontâneos no também tucano Aécio, que somam 2%.
Voto feminino
Na pesquisa indusida um fato chama a atenção: Dilma ganha de Serra por 41% a 35% no eleitorado masculino, e perde por 33% a 38% no feminino.
O Ibope apurou, porém, que a eleição desperta "pouco" ou "nenhum interesse" em 43% dos homens e 50% das mulheres, refletindo a opressão política de gênero existente na sociedade. Mesmo desprezando-se o apelo de uma linha de campanha do tipo "mulher vota em mulher", é de se sipor que o eleitorado feminino, ao decidir seu voto, siga critérios assemelhados ao da metade masculina.
Outros dados da pesquisa que permitem um raciocínio similar: Dilma vence Serra nas capitais, por 35% a 31%, enquanto perde na periferia (34% a 37%) e no interior (38% a 39%). Ela supera o tucano nas cidades com mais de 100 mil habitantes (36% a 33%), mas fica atrás nas de 20 mil a 100 mil (36% a 43%).
O voto dos pobres
Quanto às regiões, a petista sai à frente no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, e o tucano no Sudeste e Sul. Na segmentação por renda familiar, também previsivelmente, os dois candidatos descrevem trajetórias opostas. Na faixa com até um salário mínimo, Dilma vence Serra por 43% a 32%. Na de mais de cinco mínimos, é o tucano que triunfa, por 42% a 33%.
Aqui se esconde outra reserva de crescimento de Dilma, tal como no caso das mulheres. Segundo o Ibope, na faixa mais pobre 52% dos eleitores mostra "pouco" ou "nenhum interesse" pela eleição, contra apenas 36% na mais rica. Esses eleitores hoje desinteressados, quando definirem o seu voto, tendem a fazê-lo na mesma direçâo de ses iguais, o que favorece Dilma.
Rejeição e previsões
A presidenciável petista também está melhor situada quando o Ibope pergunta ao eleitor em quem o eleitor "não votaria de jeito nenhum". A rejeição de Serra é de 24%, chegando a 30% no Nordeste. A de Dilma fica em 19%, subindo para 34% na faixa de maior renda. Em abril, ocorria o inverso: a petista era mais rejeitada, com 34%, contra 32% de Serra).
O Ibope indagou, "independente de seu voto", que o eleitor acha que será o presidente. Dilma ficou cinco pontos acima de Serra (40% a 35%), fora da margem de erro, de dois pontos para cima ou para baixo. Entre os mais pobres, a diferença chegou a 11 pontos (41% a 30%). Na faixa de maior renda, houve empate técnico com vantagem para Serra (45% a 43%).
Os fãs de Lula
O maior potencial de crescimento da candidata de Lula está entre os eleitores que aprovam o atual governo (75%) e o modo do presidente governar (86%).
Dilma abre uma vantagem de 12% sobre Serra entre os que acham o governo "bom" ou "ótimo". Na faixa do "ótimo", chega a 60%. Mas mesmo aí Serra ainda fica com 24%. Na faixa que acha o governo "bom", há empate, com 37% apoiando Serra 3 36% Dilma...
A pergunta é como estes percentuais vão evoluir, na medida em que a campanha e o programa eleitoral deixarem evidente quem está do lado do governo e quem na oposição. A próxima bateria de pesquisas o dirá.
Veja aqui o relatório completo da pesquisa Ibnope (em pdf).
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