segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sócrates Brasileiro: O Outro Lado da Bola

Por: Rodrigo Brandão
Fotos: Carvalho Studio/Odônio dos Anjos/Agência O Globo/Fábio Pereira

"O debate era fundamental. Nós chegamos a um ponto, num país que estava há quase 20 anos sem votar para presidente… Foi demais. A primeira campanha do Lula, em 1982, nós bancamos dentro do Corinthians. Fizemos um jogo de manhã, um churrasco à tarde e um show à noite. Reunimos toda a galera para gerar recursos. É por isso que eu falo: se temos um metalúrgico na presidência é culpa nossa também.

Que avaliação você faz do governo dele?


Eu adoro fazer analogia. Namorar uma mulher e ela gozar cinco vezes é pouco. Governo Lula é isso. Mas é muito melhor do que não gozar".


Recentemente, em sua coluna na Folha, o jornalista Juca Kfouri, grande incentivador da Democracia Corinthiana, arriscou uma seleção composta por jogadores inteligentes: Rogério Ceni; Paul Breitner, Elias Figueroa, Beckenbauer e Sorín; Falcão, Sócrates e Cruijff; Cazely, Tostão e Valdano.

Sócrates é posterior ao elegante e diplomático Franz Beckenbauer, tricampeão europeu com o Bayern de Munique (1974, 75 e 76), campeão mundial com a Alemanha dentro e campo (1974) e fora dela (1990). Também é posterior ao irreverente e descolado Johann Cruijff, tricampeão europeu com o Ajax (1971, 72 e 73) e cérebro da Laranja Mecânica de Rinnus Mitchells. Aliás, Cruijff e Sócrates têm algo em comum além da inteligência: jamais ganharam uma Copa, mas suas seleções encantaram o mundo.

Cronologicamente, Sócrates pertence à geração dos argentinos Daniel Passarela, Mario Kempes e Diego Maradona (“na única vez em que nos encontramos numa Copa, eu ganhei”, relembra), do alemão Rummenigge, do francês Michel Platini, dos italianos Dino Zoff, Bruno Conti e Roberto Bettega, do polonês Boniek, do soviético Dasaev e dos brasileiros Júnior, Falcão, Cerezo e Zico.

Mas Sócrates Brasileiro tem orgulho mesmo é de pertencer à geração de Zé Maria, Juninho, Wladimir, Biro-Biro, Zenon e Casagrande. “Nenhum ambiente, nem o de 82, me fez tão bem como o da Democracia Corinthiana. Não troco a alegria de ter sido capitão daquele Corinthians por nada”. Orgulha-se ainda de integrar o time daqueles que lutaram pelas Diretas-Já, como os artistas Fafá de Belém, sua conterrânea, e Chico Buarque, as atrizes Fernanda Montenegro e Regina Duarte e os políticos Franco Montoro e Dante de Oliveira, cuja emenda em favor do movimento levava seu nome. Coincidência: o primeiro comício das Diretas-Já em São Paulo foi em frente ao estádio do Pacaembu, onde o Corinthians mandava seus jogos.

O futebol, para Sócrates, só tem importância se existe um contexto social. “As minhas vitórias políticas são infinitamente superiores às minhas vitórias como jogador profissional. Um jogo acaba em 90 minutos. A vida prossegue. E ela é real”.

Em 1984, Sócrates transferiu-se para a Fiorentina. Um gesto de oposição à derrota das eleições diretas. Na Itália, sofreu com o frio e com a solidão. “Para você ter ideia, meu melhor amigo era um argentino [Daniel Passarela]. Ainda bem que ele era gente boa”. Quando rompeu o contrato com a equipe de Florença, deixou de receber algo em torno de um milhão e meio de dólares. “Eu não queria o dinheiro. Queria felicidade”. Língua afiada e um calcanhar único. Preciso. Desafeto público de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Sócrates não se importa de comprar brigas com adversários fortes e implacáveis. “Dentro de campo, lembro que evitava o contato porque não tinha vantagens físicas. Fora dele, porém, eu compro, e vou comprar sempre, todas as brigas que julgo importantes para o meu país. Os principais gols de minha vida nada têm a ver com o futebol”.


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